Direto do set de Superman | Como James Gunn me fez acreditar no seu filme
Omelete esteve em Cleveland, nos Estados Unidos, durante as gravações do primeiro filme do DCU
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Era um 2 de julho ensolarado em Cleveland, nos EUA. Eu tinha acabado de assistir a uma cena do filme quando chegou minha vez de entrevistar James Gunn no set de Superman, e não tinha, exatamente, uma pergunta a fazer. Eu tinha uma história.
Desde que foi anunciado como diretor do filme, Gunn, que também é co-CEO da DC Studios, citou frequentemente a icônica HQ Grandes Astros Superman como inspiração para o começo do novo DCU nos cinemas. Mas à primeira vista, o longa-metragem estrelado por David Corenswet não poderia ter menos a ver com a minissérie de 2005. A história escrita por Grant Morrison e desenhada por Frank Quitely mostra Kal-el no seu apogeu, enquanto o maior filme da Warner Bros. em 2025 tem um Clark Kent ainda em começo de carreira.
De acordo com os próprios Morrison e Quitely, quando Grandes Astros Superman foi anunciado, na Comic-Con de San Diego, os dois não tinham ideia do que fazer com a história. Voltando para seu hotel, eles encontraram um cosplayer de Superman e resolveram conversar com ele e beber cerveja no quarto. Lá, eles perguntaram o que ele mais gostava em Clark Kent. Ao responder, o homem se inclinou para frente, colocou os cotovelos nos joelhos e sua capa cobriu os ombros. Morrison observou naquela cena a chave perfeita para iniciar Grandes Astros: o alienígena superpoderoso numa pose profundamente humana. A imagem final, desenhada por Quitely para a capa do primeiro capítulo, é imediatamente icônica: Superman, com um sorriso relaxado e um olhar tranquilo, nos observa sentado numa nuvem. A capa, claro, cobre seus ombros.
Essa é a imagem que Gunn usou para ilustrar Superman nas divulgações do filme antes de soltar a primeira foto de Corenswet no papel, uma foto que possui a mesma dicotomia de Grandes Astros: o herói com cara de cansado, roupa suja, vestindo as botas porque, não importa o quão longo seu dia tenha sido, Metrópolis está novamente sob ameaça e ele precisa ir ao resgate.
Após recontar a história acima, admiti que não tinha uma pergunta: “Só quero saber o que isso te faz pensar,” eu disse. Enquanto eu contava a anedota, Gunn exclamou “sim!” algumas vezes, como se aquilo fosse algo sobre o qual ele estava há tempos querendo falar. “Nossa história não tem nada a ver com Grandes Astros Superman, mas nossa vibe tem tudo a ver com Grandes Astros Superman. Eu preciso dizer, reler Grandes Astros Superman foi algo que me fez dizer: ‘Esse é o tom. Esse é o tom do Superman, esse é o tom do Lex.’ Eles [Morrison e Quitely] realmente mostram esse cara grande e enorme que é muito real, ainda que seja incrivelmente poderoso,” ele disse, empolgado.
Com um sorriso no rosto, ele continuou: “Isso falou muito comigo, e eu penso que esse é um tom que nunca vimos em filmes de super-heróis. Poder criar um cara que ao mesmo tempo é maior do que a vida e fantasioso, mas também incrivelmente realista, com questões humanas, problemas humanos, um relacionamento humano com uma mulher humana,” Gunn explicou. “E apesar disso tudo, ele é um alienígena.”
Gunn terminou sua fala destacando que Grandes Astros também determinou o visual do herói. Ele “não está usando um uniforme que parece parte de um concurso de camisa molhada.”
Ao longo da conversa, a filosofia – do homem poderoso, mas real – ficou clara. Se o Superman (1978), de Richard Donner, apresentou uma visão romantizada do ícone, um sonho que inspirou o público a acreditar que poderia voar; e se O Homem de Aço (2013), de Zack Snyder, colocou em tela um foco no deus alienígena de força irresistível. James Gunn está interessado naquilo que, pra mim, faz do Superman uma figura fascinante, algo que não vejo como foco de nenhum dos filmes anteriores do personagem. Algo que sempre quis ver no cinema. O homem dentro do super. Em momento algum da entrevista, por exemplo, ouvi a palavra “Kal-el.” Tudo era “Clark, Clark, Clark.”
Essa aparente intimidade com o personagem, porém, não estava lá no começo. Peter Safran, seu colega de produção e o outro CEO do DC Studios, propôs a Gunn a ideia de fazer um filme do herói bem antes do DCU surgir. “Quando a oportunidade de escrever Superman surgiu anos atrás, eu fiquei incerto: ‘como eu faço isso?’. Eu sou conhecido por escrever personagens peculiares, pessoas fora da caixa, pessoas que não são normais. De muitas formas, o Superman é o super-herói mais normal que existe. Então como eu faria isso? Era imponente demais.”
O tempo passou, mas Superman continuava em sua mente. “Eu continuei pensando, e pensando, e pensando. Como isso funcionaria? Eu acho que eu encontrei a resposta quando percebi que o Superman é o maior dos excluídos e o maior dos incluídos, que é muito como eu me sinto. Ele é realmente uma pessoa boa num mundo que não é tão bom, especialmente hoje em dia. Ele é muito firme num mundo que é muito dividido.”
Surgiu, então, a semente de uma ideia. “Como é ser o Superman nesse mundo? No nosso mundo atual?” ele pondera. “Foi aí que eu encontrei meu fogo, eu acho. Aí que encontrei a história.”
Isso não só aponta para o entendimento que o filme terá sobre seu protagonista, como também serve para deixar claro que, apesar de ter vários personagens da DC – Mulher-Gavião, Sr. Incrível, Lanterna Verde, Metamorpho – este é, em primeiríssimo lugar, um filme do Superman.
“Tudo gira em torno de Superman e Lois (Rachel Brosnahan) e Lex (Nicholas Hoult),” garantiu Gunn. “Cada pedaço de história que existe, cada personagem que existe, gira em torno desses três personagens. Não há nada no filme que não seja sobre este triângulo – bom, não é bem um triângulo porque dois deles estão no mesmo lado, mas tudo está em volta deste trio. Não existe nada nesse filme – do Krypto ao Sr. Incrível à Mulher-Gavião – que não esteja lá para nos mostrar um aspecto da personalidade de Superman, Lois ou Lex.”
Almoçando uma salada, Gunn conversou conosco sentado na mesma pose daquele cosplayer, a pose que Frank Quitely reproduziu na capa de Grandes Astros Superman #1. A escala da produção à nossa volta era enorme, mas Gunn parecia relaxado – como alguém certo do que está fazendo. É um contraste quase tão instigante quanto o do homem-alien nas nuvens. O diretor mais importante da DC em seu momento humano. De fato, tudo girava em torno do Superman.
Notícia publicada originalmente no Omelete. Chippu também é parte da Omelete Company.
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