O fim de Batman, filme estrelado por Robert Pattinson e dirigido por Matt Reeves, deixa um vácuo de poder no submundo do crime de Gotham com a morte do chefão Carmine Falcone (John Turturro), parte do plano do Charada (Paul Dano). A cidade também termina o filme inundada e tendo que se recuperar, depois do atentado que o vilão, que acabou preso no Arkham, arquitetou. É nesse contexto, ou melhor, alguns dias depois disso, que a história de Pinguim, nova série da HBO, produzida por Reeves e trazendo de volta Colin Farrell sob os quilos de maquiagem e próteses do vilão, começa.

E já de cara a produção acerta ao ter um prólogo exatamente onde o filme nos deixou, com Oz Cobblepot olhando para a cidade através da grande janela do escritório de Falcone. Está lá também o tema de Michael Giacchino e outras cenas de um telejornal, mostrando os estragos causados na cidade - o que será importantíssimo para a trama - e ainda uma foto do Charada. É a preparação perfeita para que possamos de fato entrar nessa nova história da Saga do Crime de Gotham.

Pinguim então já começa no Iceberg, ou melhor no 44 Negativo, a boate que era o ponto de encontro dos mafiosos de Falcone, com Oz arrombando o cofre para roubar as joias e documentos, mas sendo pego por um outro personagem conhecido dos quadrinhos do Batman: Alberto Falcone (Michael Zegen). Oz diz que estava salvando as coisas para a família Falcone e entrega para Alberto. Os dois conversam e Cobblepot conta a história de Rex Calabrese, um mafioso que ele admira e teria recebido todo o carinho da comunidade quando morreu. Alberto debocha de Oz, dizendo que é isso que ele gostaria para o futuro e humilha o ex-capanga do pai. A reação do Pinguim é rápida e ele mata Alberto a sangue frio, mostrando a impulsividade e a violência que podemos esperar do personagem.

Ao sair do Iceberg com o corpo de Alberto, Oz encontra pela primeira vez Victor Aguilar (Rhenzy Feliz), um jovem que estava tentando roubar partes do seu carro de luxo (e roxo!). O mafioso o obriga a dirigir para ele e ajudá-lo a transportar o corpo de Falcone. Oz tem planos maiores, agora que descobriu que o filho de Carmine Falcone tinha um novo carregamento de drogas chegando em Gotham e isso pode ser o seu caminho para começar a dominar o submundo. Ele, claro, precisa de novos aliados. Antes de deixar o corpo de Alberto dentro do porta-malas de um carro abandonado, Cobblepot retira o anel de Salvatore Maroni, que Carmine havia pego quando entregou o mafioso para a polícia (citado em Batman). Ele ameaça matar Victor, mas o garoto suplica por uma chance e o Pinguim aceita.

Quem não está nada satisfeita com o sumiço do irmão é Sofia Falcone (a ótima Cristin Milioti), recém saída do Arkham, acusada de assassinar diversas mulheres como o serial killer The Hangman (ou Enforcado, como é chamado nas HQs). Ela questiona a cúpula dos Falcone e depois se encontra a sós com Oz em um restaurante. Os dois conversam e o clima é de um jogando com o outro, ela suspeitando dele e ele tentando não transparecer que foi o culpado. Ela passou 10 anos presa e tem um comportamento diferente do que se espera de alguém vindo de uma família rica, exemplificado na forma como ela come vorazmente. Oz acaba deixando escapar qual era o plano de Alberto e Sofia diz que confia nele, que ele foi o motorista da família - deixando claro como Cobblepot é enxergado pelos ricaços mafiosos -, mas que acredita que ele pode mais.

A série então nos leva para conhecer um lado de Oz que ainda não sabíamos nada sobre: a família. Ele e Victor pegam o trem até o subúrbio de Gotham e são importunados por um mascarado com um cartaz sobre a verdadeira face da cidade - o QR Code do cartaz traz uma mensagem escondida. Veja aqui. Lá conhecemos Francis (Deirdre O'Connell), a mãe de Oz, uma mulher doente, tomando medicamentos pesados, que a tornam ainda mais frágil. Entretanto, ela sabe como estimular psicologicamente o filho e impulsioná-lo para não desistir e continuar sua missão.

De lá, a série não perde tempo e já nos coloca em um dos cenários mais famosos das HQs do Batman: a Penitenciária Blackgate. É lá que Salvatore Maroni (Clancy Brown) está preso e Oz tenta negociar com o ex-chefão um novo negócio utilizando as “drops”, as drogas que os Falcone dominam desde a prisão de Maroni. Salvatore, claro, conhece o Pinguim e sabe que ele não é flor que se cheire. Ele o manda embora, mas antes de sair, Cobblepot entrega o objeto que Falcone havia roubado: o anel do mindinho, com o selo da família.

Ao retornar para Gotham, Oz é perseguido por capangas de Sofia e mesmo despistando alguns - e matando outros -, ele acaba capturado. Pinguim é amarrado sem roupas e torturado por Sofia, que manda que ele confesse que foi o responsável pela morte de Alberto. Oz nega e no meio da tortura um carro invade o gramado dos Falcone e bate. Não há ninguém lá dentro a não ser o corpo de Alberto, com o dedo mindinho - onde ele usava o anel de Maroni - arrancado. Sem ninguém por perto, Oz ri e seu primeiro grande plano para se aproximar de Sofia dá certo. Quem dirigia o carro era Victor, agora, parceiro de vez de Oz Cobblepot.

O episódio termina com uma música da Dolly Parton durante os créditos e a letra diz: “Das 9h às 17h, para servir e se dedicar / Você acharia que eu / Mereceria uma promoção justa / Quero seguir em frente / Mas o chefe não parece que vai me deixar”. Uma canção que pode servir tanto para a trajetória de Oz até aqui, quanto para o que está por vir ao tentar se tornar o chefão da máfia de Gotham.

É um começo ágil, que já distribui todas as peças de Pinguim e coloca o personagem de Colin Farrell em um destaque merecido desde o Batman, de Matt Reeves. Violento e carismático, é um início fantástico e que expande ainda mais esse universo que mistura o realismo e uma estética próxima de HQs mais sóbrias, com a cara das melhores séries produzidas pela HBO.

Pinguim será exibido a partir do dia 29 de setembro, todo domingo, às 22h, na HBO. Os espisódios também estarão disponíveis na Max.