Por que Matt Reeves é o melhor diretor de blockbusters da atualidade (em 4 cenas)
De Cloverfield a Batman, passando pelo Planeta dos Macacos, o cineasta adiciona textura e profundidade ao fator pipoca
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Grande parte da reação crítica a The Batman tem sido a exaltação da direção de Matt Reeves, e como seu filme é o raro blockbuster de super-herói com realmente algo a dizer, uma visão concreta e uma abordagem mais profunda de seu personagem principal. O raro projeto de centenas de milhões de dólares que alia substância com estilo. Reeves, na verdade, tem feito isso com outras propriedades intelectuais há anos, encontrando dramas humanos e mostrando grande destreza cinematográfica muito antes de assumir o Cavaleiro das Trevas da DC Comics. Basta olhar para seus dois Planeta dos Macacos e, até certo ponto, Cloverfield, para enxergá-lo como melhor diretor de blockbusters da atualidade.
Como diretor, Reeves instantaneamente adiciona textura aos seus filmes simplesmente em sua inteligência no posicionamento de câmera. Observe, por exemplo, a perseguição do Batmóvel em The Batman. Ele coloca a audiência nos pneus do veículo, dentro dos carros com os personagens olhando ao seu redor, olhando os caminhões e pickups quase da altura do próprio asfalto, reforçando a intensidade e claustrofobia desse tipo de ação. Há perigo por todo lado. Um rápido erro é suficiente para garantir muita destruição. Isso é fruto do que Reeves aprendeu com Cloverfield, quando reviveu o gênero de monstros gigantes ao lado de J.J. Abrams através de uma infusão de dinamismo e caos com fotografia found-footage. Pensar em ângulos, na pura construção de imagem. O que você está vendo? De onde está vendo? Por quanto tempo? Como a cena muda e evolui? Veja onde essa sequência começa, e onde ela termina.
Mas se Cloverfield serviu para iniciar sua transição para o mundo de blockbusters e mostrou as capacidades técnicas do cineasta, foi seus próximos trabalhos que o amadurecimento narrativo do diretor ficou claro.
Em 2011, Planeta dos Macacos: A Origem foi elogiado ao apresentar uma história humana e interessante como pontapé inicial dos eventos que levariam à clássica história vista no cinema em 1968. A sensação, porém, era de surpresa. Não esperávamos, foi legal, mas não abusem da sorte. Com ambos Planeta dos Macacos: O Confronto e A Guerra, Reeves - depois de dirigir o remake norte-americano de Deixe-me Entrar - não só se mostrou capaz de continuar a inesperada renascença da saga da 20th Century Fox, como elevou a história de César (Andy Serkis) a outro patamar, aliando seu excelente olho de diretor com uma abordagem sem medo do silêncio e de um ritmo devagar com um desenvolvimento de personagem quase único dentro da Hollywood moderna.
Reeves não tem medo de silêncio. Veja esse momento.
O silêncio transforma a batalha entre humanos e macacos em algo triste, melancólico, e permite uma transição natural para um momento de espanto e surpresa, sem nunca reduzir o momento à ação genérica em troca de diversão barata. The Batman é repleto de cenas assim - um dos momentos climáticos do longa envolve o herói, vivido por Robert Pattinson, gritando enquanto prepara para fazer um sacrífico, mas não ouvimos nada. Mas mais do que cenas específicas nas quais Reeves aperta o botão de mudo, ele é um diretor que não tem medo de demorar, de deixar uma cena cozinhar, focando em diálogos, pequenos barulhos, em olhares.
A paciência metódica de Reeves significa que quando seus filmes aumentam o volume, como na introdução do batmóvel de Pattinson, eles ficam muito altos. Veja a abordagem direta e chocante desse momento.
Um filme pior não teria deixado a entrada de Koba chegar, se transformar, respirar e crescer. Mas Reeves deixa a audiência ficar confortável, nos faz baixar a guarda e, mesmo cientes do que está vindo, somos pegos de surpresa quando ele finalmente aperta o gatilho.
Todas essas técnicas são utilizadas por Reeves nos filmes dos Macacos e em Batman, mas mais do que criar atmosfera e ambiente, elas ajudam o diretor a contar histórias focadas em personagens. Seus closes nos olhos de Bruce Wayne ou de César, sua ênfase num ritmo mais devagar e a troca de muitas cenas de ação por cenas de ação melhores significa mais tempo para interação entre os heróis, entre protagonistas e antagonistas, seja pelos diálogos ou até sem falar nada. Quando cada cena conta uma história, há menos necessidade para discursos expositivos, e quando até essas sequências são filmadas com ritmo, criatividade e ótimos atores (outro excelente forte do diretor é como ele deixa seus astros brilharem), elas não parecem didáticas e cansativas.
Chegamos, enfim, em The Batman. Veja como essa cena nos traz novas informações sobre o caso (Gil Coulson sumiu) e sobre Bruce Wayne (sua proteção do filho do prefeito, um menino sem pai, como ele), constrói suspense através do silêncio seguido pelo som, aumenta a tensão colocando a câmera nos lugares certos - especialmente quando Bruce salva a criança. É só um exemplo de como, em sua mão, blockbusters são diferentes. Mais humanos, mais palpáveis, mais reais e memoráveis.