Por que todo filme tem 3 horas de duração agora? (E por que isso é bom)

Por que todo filme tem 3 horas de duração agora? (E por que isso é bom)

John Wick 4: Baba Yaga, Avatar: O Caminho da Água, Batman... por que Hollywood tem tantos filmes de 3 horas agora?

Guilherme Jacobs
27 de março de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Você já deve ter ouvido alguém reclamando disso. Ou, sejamos honestos, deve ter visto um tweet sobre o assunto. Nos últimos meses, é recorrente ver alguma variação de "por que todo filme agora tem três horas?" circulando grandes lançamentos do circuito blockbuster ou mesmo dos filmes voltados para premiação. O debate ressurgiu (se é que um dia foi embora) com a chegada de John Wick 4: Baba Yaga e seus 170 minutos de pancadaria, tiroteio e explosão executados num nível de grandiosidade que o cinema ocidental não via há oito anos.

A discussão foi fermentada nos últimos meses por conta de títulos como Avatar: O Caminho da Água (3h12), Babilônia (3h09), Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2h41) e continuará com Oppenheimer (aparentemente tem 3 horas) e Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1 (também aparentemente tem 3 horas). Criou-se a falsa impressão de que "todo filme agora tem três horas", e por parte de muitos espectadores, criou-se também a rejeição da duração maior com base no fato dela, simplesmente, ser maior. Por que isso está acontecendo?

Como já mencionado, é preciso deixar claro que isso não é verdade. John Wick 4 será o maior lançamento de março, mas os outros blockbusters que entraram no circuito este mês (Creed III, Pânico VI, Shazam! Fúria dos Deuses, 65: Ameaça Pré-Histórica e Urso do Pó Branco) tem de 87 a 130 minutos. E entre os principais lançamentos de abril, que incluem Super Mario Bros., AIR: A História por Trás do Logo e A Morte do Demônio: A Ascensão, só Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes terá duração acima de 2 horas.

Então, de onde vem essa ideia? Por mais que os longas-metragens com duração na casa dos 180 minutos ainda sejam claramente minoria, eles estão se tornando mais comuns. Até alguns anos atrás, um filme de 3 horas era quase inevitavelmente visto como um épico, uma história grandiosa provavelmente contando anos e anos da vida de um personagem real, de um acontecimento importante ou de uma época memorável. Era, por exemplo, inconcebível ter filmes de Vingadores e Batman com essa minutagem. Mas aqui estamos.

Há razões criativas para essa mudança, e é importante tratar sobre elas. Contudo, como o debate de duração tem se aplicado quase exclusivamente ao cinema Hollywoodiano, é preciso observar a questão do ponto de vista financeiro. Faz sentido para os estúdios? Faz sentido para os cinemas? Não era melhor ter durações mais curtas para garantir mais exibições de filmes por dia? Bom, não necessariamente.

Pegue os já listados filmes de março. Creed III e Pânico VI, ambos com duas horas, tiveram os melhores primeiros fins de semana de suas franquias na bilheteria, mas o hit do mês é, sem dúvidas, John Wick 4. Com US$ 75 milhões na estreia, também o melhor de sua franquia, ele está isolado no topo. E os piores dos últimos 30 dias? 65: Ameaça Pré-Histórica (1h27 de duração e apenas US$ 12 milhões) e Urso do Pó Branco (1h31 e US$ 23 milhões).

Voltando para o fim de 2022, com a exceção do resultado decepcionante de Babilônia (que, combinemos, nem é um blockbuster), os números também favoreceram os gigantes. Pantera Negra: Wakanda Para Sempre fechou seu tempo nos cinemas com US$ 858 milhões arrecadados e Avatar: O Caminho da Água tem a terceira maior bilheteria de todos os tempos (vale ressaltar: todos os filmes do Top 4 tem pelo menos 2h42). O mesmo aconteceu com Batman, com Vingadores, e deve acontecer com o próximo Missão Impossível e Oppenheimer.

A aprovação da audiência também está lá em cima. Aqui, Babilônia é novamente a exceção a regra. Todos os outros (John Wick, Avatar, Pantera Negra, Batman) tem uma nota de audiência de pelo menos 87% no RottenTomatoes e um CinemaScore (nota dada pelos espectadores assim que saem da sessão) de A- ou melhor. O público gosta e a bilheteria está aí.

Nunca saberemos o quanto isso vai durar. Eventualmente, talvez, a geração mais jovem e acostumada com Tiktok e Reels pode passar a rejeitar algo que demanda sua atenção por um período de tempo deste tamanho, mas por enquanto, a pressuposição de que quem frequenta o cinema não gosta de assistir algo com mais de 120 minutos parece totalmente equivocada. Talvez o método binge de assistir a séries de TV esteja contribuindo para isso, talvez os preços mais caros de ingresso signifiquem que o cliente quer sentir que seu dinheiro valeu mais, talvez, simplesmente, os filmes tenham se justificado.

Quem agradece, em grande parte, são os cineastas. Particularmente quando falamos de diretores de filmes atrelados a marcas conhecidas, isso lhes confere a liberdade de descarregar todas as suas boas ideias e colocá-las em tela pouco se preocupando com o tamanho do corte final. No mercado atual, isso é uma benção. Pós-pandemia, as incertezas quanto ao lançamento de algo nas telonas aumentaram e nunca se sabe quando o prejuízo virá. Com isso, diretores e produtores estão preferindo incluir tudo o que podem em seus filmes, sem a ressalva de "guardar para a continuação" porque, francamente, pode não haver uma.

O próprio John WIck 4, novamente, é um bom exemplo. Inicialmente, ele seria filmado junto com John Wick 5. Agora, não há mais nem certeza se a equipe criativa por trás da franquia fará um quinto longa-metragem com o assassino profissional. É, de certa forma, mais seguro, enfiar tudo de bom numa só produção, deixá-la o melhor possível, e soltá-la no mundo. Nunca se sabe se ela será a última.

Aqui, porém, precisamos ser claro. Ter 3 horas de duração não é algo inerentemente bom, nem ruim. Tudo depende da execução.

As 2h50 de John Wick 4 passam num piscar de olhos. O comando de Chad Stahelksi das ambiciosas cenas de ação, assim como a entrega total de Keanu Reeves no meio delas, resulta no domínio de nossa atenção. Seja pelos visuais imponentes ou pela coreografia fantástica das lutas, cada minuto é bem utilizado. Há a sensação de que, se algo está lá, isso tem importância. Por outro lado, as duas horas do inconsistente Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, lotadas de efeitos especiais medíocres e um roteiro bagunçado, parecem nunca acabar. Não preciso falar da bilheteria desse, né.

Essas afirmações, claro, vão variar de pessoa pra pessoa. O argumento, porém, é que a duração do filme valerá a pena de acordo com sua qualidade. Há histórias feitas para os 90 minutos, outras para os 120, e outras que fazem bom uso do 180.

A quem, de todo jeito, reprove durações longas em filmes de Hollywood. A quem ache que apenas um ou outro título mencionado neste texto justifique seus minutos acima da média, mas por todos os fatores aqui discutidos, o momento está recompensando a existência de filmes como John Wick e Avatar. Filmes de 3 horas jamais se tornarão a maioria, mas se eles continuarem apresentando a qualidade e bilheteria vistas nesses últimos meses, eles não voltarão a ser tão raros.

artigo
john-wick
avatar
babilonia
missao-impossivel
oppenheimer
vingadores
batman

Você pode gostar

titleGames

Estúdio de Batman: Arkham prepara novo jogo do herói, diz site

Ainda não há detalhes da produção

Felipe Vinha e Matheus Ramos
7 de fevereiro de 2025 - 1 min leitura
titleDisney

Josh Gad revela porque perdeu papel no primeiro Avatar

E o motivo foi curioso

Felipe Vinha e Matheus Ramos
20 de janeiro de 2025 - 2 min leitura
titleMarvel

Vingadores | Irmãos Russo revelam por que toparam Doomsday e Guerras Secretas

Uma ideia deu origem a tudo

Felipe Vinha e Matheus Ramos
13 de janeiro de 2025 - 1 min leitura
titleDC Studios

Batman | Diretor de The Brave and The Bold explica atraso do filme do DCU

Andy Muschietti vai dirigir o filme de Batman do estúdio de James Gunn

Guilherme Jacobs e Leo Bahia
9 de janeiro de 2025 - 2 min leitura