Quentin Tarantino: Rankeando todos os filmes do diretor que completa 60 anos
Para celebrar os 60 anos do diretor, rankeamos todos os seus filmes, de Cães de Aluguel até Era Uma Vez em... Hollywood
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Não vai chocar ninguém saber que eu, um homem nascido nos anos 1990, aprendi sobre cinema com Quentin Tarantino. Seu uso de referências, recriações, recordações e renascimentos me instigou a caçar filmes dos mais populares aos mais desconhecidos, e seu claro amor por diferentes gêneros, do faroeste ao exploitation, me ajudou a desenvolver um paladar aberto para as mais diferentes experiências cinematográficas possíveis. Com Cães de Aluguel e Pulp Fiction, ele mudou minha vida. Não é exagero. Agora, com seu último filme, ele parece estar fazendo algo inteiramente pra mim.
Aponte uma arma pra mim e me pergunte quem é meu diretor favorito, e eu terei uma séria dificuldade em escolher entre Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino. Há uma razão, claro. Eles estão à frente de uma geração de cineastas, que inclui também David Fincher e Sofia Coppola, que chegou ao auge quando eu estava entrando na adolescência e voltando meus olhos para novos tipos de obras, muitas vezes por razões efêmeras como sua fama online e o quão violentos eles eram. Não é surpresa, então, que eu pendi para Tarantino.
Hoje, ele é simultaneamente o mais aclamado, criticado, subestimado e debatido cineasta de sua geração. Se PTA alcançou um status quase Kubrick-iano de gênio, Tarantino se tornou um "ame ou odeie" muito com base no quão irritantes seus fãs (como eu) podem ser. Gostamos de falar sobre como ele fez uma referência a tal filme aqui, ou relembrou outro filme ali, e entramos numa espiral de cinefilia não muito diferente daquela onde ele mesmo opera, seja quando está por trás da câmera, escrevendo um livro ou falando em seu podcast.
Pra mim, porém, há um genuíno amor e cuidado com a arte em tudo que ele faz. De fato, ele pega muito emprestado, mas quem não o faz em cinema? Há valor no diretor que ama cinema profundamente e que quer inundar seus trabalhos dessa paixão, que quer abrir nossos olhos para o quão incríveis filmes são. Posso falar mais sobre isso, mas com The Movie Critic a caminho, teremos outras oportunidades.
Por hora, para celebrar seus 60 anos, vamos fazer o que todo fã de Tarantino adora fazer e rankear seus filmes. Quentin que me perdoe, mas vou colocar os Kill Bills como dois títulos separados. Clique no título de cada um para saber onde você pode assisti-lo.
10. À Prova de Morte
Eu já estou me arrependendo. Como colocar um filme tão bom quanto À Prova de Morte, de 2007, em último lugar? Isso demonstra a qualidade da filmografia de Quentin Tarantino. Dividido em duas partes, À Prova de Morte é simultaneamente uma celebração e um questionamento do cinema exploitation, e uma celebração de dublês no cinema, assim como a evolução de seu papel nas produções. Kurt Russell é fantástico como um dos vilões mais nojentos dos últimos 20 anos, Rosario Dawson recebe um merecido holofote, e temos a rara chance de ver Zoe Bell atuando, além de lutando.
9. Kill Bill Vol 2
Kill Bill Vol. 2 é ótimo. Seu maior problema é simplesmente não ser o Vol. 1. Ainda sim, o filme que solidificou de uma vez por todas o interesse de Tarantino em vingança merece o destaque pela sinfonia de ação e humor encenada pelo cineasta ao lado da noiva de Uma Thurman, culminando com seu confronto final contra Bill (David Carradine). O Volume 2, penso, só não a explosão de ícones do original (a roupa amarela, a sequência no Japão, a abertura inesquecível), mas sua dedicação emocional à história é maior, e por isso tenho certeza que muitos leitores vão discordar de mim e colocá-lo bem mais alto em seus rankings.
8. Os Oito Odiados
Não foi proposital colocar Os Oito Odiados em oitavo lugar, mas já que estamos aqui, por que não? Um whodunnit num ambiente só que captura nossa atenção quase como uma peça (falo isso como o maior dos elogios) se desenrolando quase em tempo real, Os Oito Odiados é hilário, sombrio e o mais brutal dos filmes de Tarantino. Não só pela sua violência gráfica, talvez a mais intensa de sua carreira, mas por como o diretor tem menos interesse em deixar seus personagens "legais" aqui. Como o inverno frio, como a guerra civil dos EUA e como os racistas presentes naquela casa deixam claro, há pouco para se "gostar." O roteiro e direção, porém, revelam um cineasta amadurecendo (e aumentando) suas tendências. O filme, também, finalmente deu a Samuel L. Jackson a chance de protagonizar um longa de QT.
7. Jackie Brown
Chamar Jackie Brown de o primeiro, e até hoje único, dos filmes de Quentin Tarantino baseado num material pré-existente (neste caso o livro Rum Punch de Elmore Leonard) parece uma hipérbole considerando o quanto seus outros trabalhos bebem, inclusive, do próprio Leonard. Jackie Brown, contudo, ofereceu a Tarantino uma oportunidade única. Talvez pelo fato de ser uma adaptação e talvez pelo fato de ser o único de seus trabalhos que é mais sobre a atriz em seu centro (neste caso, a fantástica Pam Grier), vemos um Tarantino mais contido e curiosamente mais maduro. Jackie Brown, de 1997, parece um filme que o Tarantino de 2017 teria feito.
6. Kill Bill. Vol 1
Um fenômeno. Kill Bill talvez seja o objeto de maior debate quando se fala da natureza Tarantiniana de beber de outras fontes e "regurgitar" suas imagens, tons e ideias através dos olhos de um cinéfilo. Das referências a Bruce Lee à influência de histórias de vingança por estupro, Kill Bill é um mosaico dos interesses de seu autor, mas mostra como sua habilidade de combinar, contrastar e encenar tais paixões é intrínseca ao seu sucesso. Copiar é fácil, mas homenagear, recontextualizar e recriar o sentimento são outros quinhentos. Isso sem falar no quão, num nível bem básico, Kill Bill é legal. As roupas. As lutas. A música. A ação.
5. Django Livre
Quem tem direito de contar essas histórias? Pode Quentin Tarantino, um homem branco, retratar a vingança de um escravo americano contra seus donos? A resposta, claro, vai variar da sua visão sobre arte, sobre Tarantino em si e sobre a execução desse filme. Minha visão é positiva, mas compreendo quem rejeita a ideia (e acho que o próprio Tarantino também, considerando como ele se explode, literalmente, no terceiro ato). Django, contudo, me parece uma grande celebração do fato de que podemos, sim, contar essas histórias. Este não é o filme definitivo sobre escravidão, mas pode ser o mais divertido. Isso vem, em grande parte, pelas atuações de Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Christoph Waltz.
4. Cães de Aluguel
Meu primeiro contato com Tarantino. Comecei do começo. Cães de Aluguel é um anúncio, e é impossível ignorá-lo. O desrespeito por regras de roteiro, de cronologia, de perspectiva, de testar o que é de bom gosto, da relação diretor e audiência; desrespeito que numa análise mais profunda se revela como reverência, como vontade de colocar essas ideias pra frente, de inovar e brincar. O primeiro filme de Quentin Tarantino exibe, de cara, as qualidades do diretor para criar imagens e colocar grandes diálogos na boca de atores como Harvey Keitel, Tim Roth, Steve Buscemi e Michael Madsen.
3. Era Uma Vez em... Hollywood
Essa será a escolha mais criticada dessa lista. Acima de Django? De Kill Bill? De Cães de Aluguel. Era Uma Vez em... Hollywood, porém, marca a entrada de Tarantino em sua fase tardia, menos cruel e mais reflexiva. Este é seu filme mais apaixonado. A ideia de que ele contaria a morte de Sharon Tate (Margot Robbie) foi apenas uma armadilha para que ele revisitasse sua época favorita de Los Angeles e nos transportasse de tal modo que podemos sentir seu cheiro e nos bronzear em seu sol. Através dos magníficos trabalhos de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, Tarantino volta para sua era favorita e faz com que ela nunca acabe.
2. Bastardos Inglórios
A obra-prima maximalista de Quentin Tarantino. Aqui, seu amor por cinema transcende até a guerra e derrota o nazismo. Não à toa, as teorias que colocam todos os seus filmes no mesmo mundo imaginam o clímax de Bastardos Inglórios, com Hitler sendo assassinado num cinema, como o evento definidor da história moderna. Hilário, imprevisível e encabeçado por um assustador Christoph Waltz de um lado, e por um subestimado Brad Pitt pelo outro, Bastardos Inglórios mostra Tarantino no ápice de seu poder. Com seus maiores sets, seu maior elenco (debatível, mas vamos dizer que é) e seu maior escopo, ele encara o maior desastre dos últimos 100 anos de história e usa o poder dos filmes para encerrá-lo.
1. Pulp Fiction
Não vamos complicar isso. Pulp Fiction mudou minha vida, mudou o cinema e provavelmente mudou sua vida também. Se Cães de Aluguel anunciou uma quebra de regras, Pulp Fiction mostrou até que ponto essa nova liberdade pode gerar algo fantástico. As histórias que se cruzam com diálogos impecáveis como pontos de intercessão, o elenco que anunciou e reanunciou estrelas de cinema, a estrutura lúdica e cativante do roteiro e a direção com olhar voltado para o icônico. Não falta o que elogiar em Pulp Fiction. O mais especial, porém, é como ele continua a um passo distante demais de mim. Como ainda me desafia, sem nunca se tornar inacessível. Como ainda demanda de mim, sem parar de me entreter. É o melhor de Quentin Tarantino.