Zack Snyder esquece da história e acha que acerta na estética em Rebel Moon – Parte 2
Segunda parte da franquia estreou nesta sexta-feira, dia 19, na Netflix
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Em um determinado momento de Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes vemos um quarteto de cordas tocando. Eles vestem roupas apropriadas para a situação, uma recepção para a realeza, mas usam sacos de pano, com um olho bordado, cobrindo a cabeça. Esteticamente pode parecer interessante, mas elementos como esse mostram o grande problema dessa nova franquia de Zack Snyder: a estética na frente da narrativa. Ou pelo menos a estética que ele acha boa.
Não é pecado nenhum que a estética de um filme de ação salte aos nossos olhos em tramas mais simples. John Wické o grande exemplo da atualidade. Mad Max: Estrada da Fúria é uma aula de como contar a história a partir da ação e deixar o espectador babando pelas imagens. O mestre John Woo nunca se privou do slow-motion (e das pombas) e mesmo assim entregou pérolas como Fervura Máxima, por exemplo.
Mas parece que Zack Snyder esqueceu completamente de juntar os dois elementos com as partes 1 e 2 de Rebel Moon, seus piores filmes.
O mesmo Zack Snyder que conduziu a matança desenfreada e estilizada em 300, não consegue entregar um momento digno de comparação em sua batalha campal na lua Veldt. O mesmo vale para a sensação de perigo e tensão dos rebeldes cercados. O que parecia uma grande invasão, em tela se resume a um punhado de soldados apenas. Quem lembra da saída do shopping em Madrugada dos Mortos, sabe o que o diretor conseguiu fazer ali num cerco realmente perigoso.
Sem falar no robô Jimmy (ou James, já que ele tem nome e apelido), interpretado por Anthony Hopkins. Snyder cozinha o grande robô-militar-guerreiro por quase quatro horas se juntarmos os dois filmes, para no final ele nunca chegar perto de uma cena como as do Rorschach ou qualquer uma de O Homem de Aço.
Se emA Menina do Fogo, Zack Snyder quis contar uma história guiada pela violência, sem nunca fazer valer o real perigo, em A Marcadora de Cicatrizes ele quer fazer a sua versão de Os Sete Samurais. Só que ele erra no primordial: Por que devemos nos importar com aquele povo ou com quem os defende? A péssima construção do grupo na primeira parte continua aqui, com uma sequência interminável de flashbacks, todos em câmera lenta, e que não influenciam em nada a visão do espectador. O que muda de um filme para o outro nós sabermos o destino da família de Tarak (Staz Nair)? Ou ver a Nêmesis (Bae Doona) encontrando suas espadas? O que a sabíamos sobre o General Titus (Djimon Hounsou) muda depois da cena no passado dele? Nada vezes nada.
Para completar, A Marcadora de Cicatrizes tem a pior protagonista e o pior vilão da carreira do diretor. Kora não tem carisma, seu envolvimento com a princesa Issa é fraco e as decisões que toma em relação a ela são sem pé e nem cabeça. Os momentos que Sofia Boutella consegue brilhar mesmo, são as cenas de luta e ação, como a de espadas no final durante a queda da nave. Mas isso é pouco. Já vimos a atriz fazer muito melhor em Kingsman ou Star Trek: Sem Fronteiras. Já o Noble de Ed Skrein é a mesma coisa do primeiro filme. Um histérico de uniforme, que varia sua força de acordo com a vontade do diretor para cada cena.
Mas nem tudo é pedra na vidraça de Snyder. Depois da longa preparação para a batalha final, ela ainda diverte. A vontade de “homenagear” Kurosawa ajuda Rebel Moon – Parte 2 no que foi o pior elemento do primeiro filme. O filme é mais simplificado e focado, no grupo e na aldeia. Isso traz uma dinâmica mais fluida para a história, por mais que os flashbacks constantes tentem atrapalhar. É mais focado na “guerra”. A ação, por mais que não seja inspirada, é bem feita. E o carisma que falta nos atores principais, pelo menos sobra em Djimon Hounsou e no bonitão esforçado Staz Nair.
“Ah, mas calma aí, na versão que ele vai lançar...” Ninguém aguenta mais essa desculpa para os filmes de Zack Snyder. Esse papinho para tapar buraco já passou e ficou lá com o finado DCEU. Logo depois das críticas negativas de Rebel Moon – Parte 1, o diretor correu para dizer que sua versão é totalmente diferente e parece até de outro universo. É desrespeitoso com o fã que sempre acolheu o trabalho dele. Um grande selo de trouxa na testa de cada um.
Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, pelo menos, por enquanto, parece uma obra mais justa, melhor que o anterior e que pode até interessar em alguns momentos. Agora só falta saber qual será a desculpa esfarrapada que vão arranjar para defender os muitos problemas do filme.