Rebel Moon: A Menina do Fogo é o cúmulo dos gostos e problemas de Zack Snyder

Rebel Moon: A Menina do Fogo é o cúmulo dos gostos e problemas de Zack Snyder

Com texto pouco inspirado e direção costumeira, cineasta lança filme que não será adorado por ninguém além de seus fãs devotos

Guilherme Jacobs
15 de dezembro de 2023 - 7 min leitura
Notícias

No fim de A Menina de Fogo, o filme vendido como a primeira parte de Rebel Moon, o General Titus (Djimon Hounsou) descreve os feitos do rebelde como algo abastado de significado; um ato de revolta contra o Imperium que "dá voz aos silenciados" e excede a individualidade de cada um. As palavras dele soam até convincentes dentro da ficção, concebida pelo diretor e roteirista Zack Snyder como um mix de Sete Samurai e Star Wars.

Fora da tela, porém, elas desparecem no vácuo. O discurso soa como uma fútil tentativa de conferir, retroativamente, importância aos 133 minutos desta primeira metade de uma história, uma cuja execução mais se assemelha a um primeiro ato, esticando sem méritos a já conhecida fórmula de recrutar heróis de diferentes culturas e cenários para combater uma força maior e salvar a vida dos aldeões de uma pequena vila, onde Kara (Sofia Boutella) vive pacificamente, tentando esquecer seus dias de guerra.

Rebel Moon: A Menina do Fogo segue uma premissa conhecida, eternizada por Akira Kurosawa em Sete Samurai e depois replicada, com diferentes graus de sucesso, ao longo de décadas em filmes e televisão. Quando o temível Almirante Noble (Ed Skrein) e sua nave encouraçada entram em órbita na pequena lua de Veldt e demandam a maior parte dos grãos de fazendeiros, a silenciosa Kara e o covarde Gunnar (Michiel Huisman) se veem forçados a agir, viajando pela galáxia e recrutando guerreiros simpatizantes (ou mercenários) para montar uma resistência impossível.

Maquiando tudo isso está um universo de fantasia e ficção-científica cuja arquitetura vai imediatamente trazer à mente versões mais interessantes, como a galáxia muito, muito distante ou o universo de Duna. Snyder claramente tem ideias a mil, e nos melhores momentos, Rebel Moon é uma galeria de criaturas, naves e armas cujo design inventivo é o fruto de uma imaginação explosiva.

Infelizmente, a pobreza visual de Snyder, mais uma vez operando como diretor de fotografia, e especialmente o texto lotado de diálogos expositivos nunca justificados pela construção de mundo transformam esses vislumbres em pouco mais que uma coleção de belas artes conceituais trazidas à vida.

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Fãs devotos do diretor certamente discordarão do parágrafo anterior, e se o que eles buscam é a mesma abordagem de seu Liga da Justiça, mas com personagens menos envolventes, então eles ficarão satisfeitos. A câmera lenta está lá, aplicada com a mesma seriedade e ar pomposo aos planos mais violentos de guerra quanto a alguém derrubando um saco de sementes no chão, e as falas repletas de palavras grandiosas como honra e glória buscam nos distrair do vazio por trás de tais declarações.

Por mais que as ame, essas aspirações ao épico ou mesmo divino normalmente levam Snyder ao fracasso. Sua assinatura combina mais com trabalhos de gênero divertidos e descompromissados, como Madrugada dos Mortos e Army of the Dead, e não com visões messiânicas de uma narrativa. A exceção talvez seja Homem de Aço e Watchmen, mas em ambos casos ele foi auxiliado por um material superior ao roteiro de Rebel Moon, escrito por ele, Shay Hatten e Kurt Johnstad.

Em Rebel Moon, somos constantemente alertados da genialidade de um personagem ou do caráter cativante de um revolucionário, mas assim como a repetição de slow-motion, quer nas imagens mais banais ou mais "importantes" tira o impacto da técnica, essa insistência, quando acompanhada de superficialidade, só destaca ainda mais os problemas da obra.

Nada representa tão bem essa dinâmica quanto a construção dos personagens — interpretados por um elenco que inclui também Charlie Hunnam, Doona Bae, Staz Nair, Ray Fisher e a voz de Anthony Hopkins. A Menina do Fogo adota uma estrutura episódica, apresentando cada um deles em sequências repetitivas (o personagem recusa se juntar a Kora, uma cena de ação ou diálogo vem, e minutos depois eles estão no grupo) que não expandem os coadjuvantes para além de uma característica básica (sedutor, nobre, maternal, etc) e sequer dão à protagonista uma sombra de personalidade.

Boutella nunca foi a atriz mais versátil, brilhando mais na fisicalidade da ação (neutralizada pela câmera lenta de Snyder), mas aqui ela nunca recebe a chance de tentar mostrar diferentes facetas. Quem, de fato, consegue elevar seu papel é Skrein, que mesmo sem sair do estereótipo se delicia brincando com o humor ácido de um maníaco fascista. Os outros, a maioria competentes se não ótimos intérpretes, mal registra. A montagem caótica e picotada, e a escrita pouco inspirada, garantem seu desaparecimento.

É até tentador começar uma campanha para #ReleaseTheSnyderCut para Rebel Moon, e eu não duvido que uma versão de quatro horas com as duas partes de uma vez seria a melhor encarnação deste filme. A questão, claro, é que já foi anunciado que ambas partes de Rebel Moon terão versões do diretor, e conhecendo a liberdade criativa dos cineastas do patamar comercial de Snyder na Netflix, é difícil entender o que essas edições mais longas e violentas darão que Rebel Moon já não tem, a não ser uma minutagem maior.

Rebel Moon é, para o seu bem e seu (grande) mal, um filme com a visão de Zack Snyder. Nosso passeio pela galáxia é puro Snyder, e mesmo se seu nome não aparecesse múltiplas vezes nos créditos, não haveria dúvida de quem estava por trás deste longa-metragem. Talvez seja admirável ver a escala com a qual Snyder trabalha sem comprometer seus gostos Rebel Moon: A Menina do Fogo, porém, é mais que uma prova de seu estilo. Ele também é evidência das limitações do cineasta. Quem sabe na Parte 2.

Rebel Mooon - Parte 1: A Menina do Fogo estreia em 22 de dezembro na Netflix.

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