George Lucas amava cultura japonesa. Foi de lá, particularmente dos filmes do mestre Akira Kurosawa - diretor de Sete Samurai, Ikiru, Trono Manchado de Sangue, Rashomon, Yojimbo e muitos outros clássicos - que o criador de Star Wars tirou a roupa dos Jedi, a ideia dos sabres de luz, conceitos da Força e mais. Nos últimos 45 anos, a saga numa galáxia muito, muito distante, deve muito à terra do sol nascente. Star Wars: Visions é o momento da franquia da Lucasfilm de dizer obrigado aos seus antecessores.

Uma coleção de nove curtas feitos por sete estúdios de animação japoneses diferentes, Visions dá alguns dos nomes mais talentosos do mundo dos anime a oportunidade de, quase literalmente, abrir o baú de brinquedos marcado com "Star Wars" e tirar de lá suas ideias, personagens e imagens favoritas, livres para adicionar seu próprio tempero e identidade sem muita preocupação com o resto do universo ou outras produções da Lucasfilm. Sejam livres, meus padawans.

Os curtas resultantes desta união de marca e país são a combinação perfeita dos elementos da cultura responsáveis por inspirar George Lucas com os conceitos gerados pelo criador de Star Wars a partir desta fonte rica. Samurai, família, romance e morte povoam as histórias destes nove episódios, todos estreando nesta quarta-feira (22) no Disney+.

Observando os curtas de maneira geral, é interessante ver quais ideias de Star Wars se sobressaem para os diretores, roteiristas e animadores japoneses. Não será surpresa, por exemplo, perceber o fascínio deles pelos sabres de luz não só como armas mas como símbolos; suas cores como reveladores de caráter ou maneiras de surpreender a audiência, sua posição como símbolo de amadurecimento ou passar de tochas. Os cristais kyber, fonte da luz destas espadas lendárias, também recebem muita ênfase, assim como a Força e e os Jedi.

Como um todo, Star Wars: Visions é um sucesso absoluto. Um dos melhores produtos da Lucasfilm desde a aquisição da Disney, ao lado de Os Últimos Jedi (desculpa, haters) e, claro, The Mandalorian. São animações cheias de vida, cores e efeitos especiais para trazer à vida uma série de sequências de ação e drama impossíveis num ambiente live-action, onde as regras de física em movimento precisam ser respeitadas dentro do realismo. Aqui, a sensação, o visual e a inércia comandam. Para falar com mais detalhes, vamos explorar cada curta e estúdio abaixo.

The Duel, por Kamikaze Douga: O primeiro curta-metragem de Visions é o melhor. Inspirado por Yojimbo em particular, esta animação em preto-e-branco cheia de traços marcantes, ela mantém as cores de lasers e sabres de luz para impacto visual e emocional, acompanhando um ronin que chega numa vila explorada por forças maléficas. Os cidadãos decidem se rebelar e este forasteiro misterioso se mostra um aliado valioso. Esse curta também traz um momento com sabres de luz que não é como nada visto antes.

The Twins, por Studio Trigger: Em puros termos de ação visual, o curta do Trigger sobre dois gêmeos criados para dominar a Força cujos caminhos se tornam opostos é incomparável. A maneira como o estúdio usa os cristais kyber para quebrar as regras dos sabres de luz de maneira criativa, inovadora e impactante é o destaque destaque dessa animação colorida e dinâmica.

The VIllage Bride, por Kinema Citrus: Talvez o mais belo curta visualmente seja este, trabalhando com linhas coloridas e traços impactantes, o grande destaque desta história é numa Jedi que precisa reencontrar seu caminho com a Força para salvar uma vila e um casamento. Sim, essa animação mostra romance de maneira mais clara que todos os filmes da saga até então. Além disso, The Village Bride explora mais claramente a conexão entre os usuários da Força e a natureza, caminhando de forma naturalista e biológica.

The Ninth Jedi, por Production IG: Com traços mais simples mas muito dinamismo na animação, este curta tem o melhor roteiro de todos. Focado em Jedi, fabricantes de sabres de luz e até mesmo nas cores das lâminas lendárias, ele combina suspense, ação e reviravoltas para contar uma história super empolgante. Quanto menos se falar sobre este, melhor.

T0-B1, por Science SARU: Um dos maiores destaques de toda a coleção, este curta explora mais um lado da cultura japonesa: sua obsessão com robôs. Inspirado por Astro Bot e Mega Man, ele mostra um pequeno dróide criado para terraformar um planeta cujo grande sonho é se tornar um Jedi. Muito se especulou sobre a capacidade dos robôs de criar conexões com a Força. Aqui, não há mais dúvidas.

The Elder, por Studio Trigger: O que torna The Elder especial é como sua impactante animação, cheia de traços intensos e contraste entre cores mais mortas e os sabres iluminados, eleva o patamar das cenas de ação. A história é simples e o design de personagens e mundo não tem tanta identidade quanto os outros. Este é o curta menos memorável da coleção, mas ainda é divertido de assistir.

Lop & Ocho, por Geno Studio: Misturando um mundo futurista com visuais clássicos de samurai, este curta é fenomenal. Seus personagens são bem trabalhados, sua história é uma das mais emocionantes e interessantes de toda a coleção e a animação gera cenas de ação cheias de movimento e vida. Em Star Wars, laços sanguíneos são importantíssimos para família. Aqui, isso é subvertido com o núcleo emocional de uma narrativa sobre pai, filhas e irmãs.

Akakiri, por Science SARU: Utilizando uma animação com menos detalhes no design de personagens e traços mas cheia de identidade, o segundo curta do Science SARU traz um roteiro com boas reviravoltas mas falha em desenvolver os protagonistas como o outro trabalho do estúdio em Visions. As surpresas e visual, entretanto, são suficientes para torná-lo uma boa conclusão.