Super/Man: A História de Christopher Reeve faz retrato simples e emocionante do primeiro Superman dos cinemas

Super/Man: A História de Christopher Reeve faz retrato simples e emocionante do primeiro Superman dos cinemas

Documentário sobre a vida, carreira, acidente e morte do ator é garantia de lágrimas

Guilherme Jacobs
7 de outubro de 2024 - 7 min leitura
Notícias

De certa forma, é até adequado que Super/Man: A História de Christopher Reeve seja o primeiro lançamento com o selo do DC Studios de James Gunn. O documentário não é uma produção da Warner Bros., mas foi adquirido por insistência de Gunn e do outro CEO do estúdio, Peter Safran, depois de ser exibido no Festival de Sundance. A julgar pelo logo retrô, pela promessa de fidelidade aos quadrinhos e pelas falas dos produtores, a nova empreitada dos heróis como Superman e Batman nos cinemas é algo enraizado na história desses personagens não só na página, como também na telona.

E não há como contar a história da DC nos cinemas, e especialmente do personagem que vai inaugurar este novo universo, sem passar pelo homem que melhor interpretou Clark Kent até hoje. O conhecimento popular sobre Christopher Reeve tipicamente se resume a duas coisas: ele foi o primeiro, e melhor, Superman dos cinemas, e ele passou os últimos anos paralisado do pescoço para baixo após um trágico acidente de hipismo. Esses dois fatos são apenas uma das das facetas do filme de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, que apesar de ter sido produzido com a aprovação da família do ator não é superficial como os documentários de celebridades produzidos hoje em dia, em especial por conta de como eles encontram paralelos entre a saga do personagem e a realidade do intérprete.

Com exceção de um ou outro, como o doc de Steve Martin lançado no primeiro semestre, esse tipo de filme é feito para massagear egos e tentar indicações ao Oscar (que, aliás, não vêm mais, já que os votantes de Melhor Documentário estão claramente boicotando esses lançamentos). Super/Man – cujo título descreve bem o contraste de Reeve na memória coletiva de quem passou a acreditar que o homem podia voar depois de vê-lo em 1978 e de quem lembra de quando ele sequer podia andar, quanto mais saltar por cima de um prédio – não oferecerá informações totalmente inéditas para quem conhece a biografia do astro, e tampouco investiga a fundo os lados mais delicados de sua vida, em particular a separação da mãe de seu primogênito. Mas para compensar, Bonhôte e Ettedgui não soltam mão da corrente emocional, e por mais que a dupla se apoie um pouco demais no sentimentalismo, é difícil culpá-los.

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Afinal de contas, a vida de Reeve é uma de fortes sentimentos. Visualmente, a ideia mais criativa do documentário é usar o simbolismo do herói para representá-lo numa estátua do Superman em voo. Inicialmente triunfante, ela é eventualmente danificada com a linguagem verde da kryptonita, e assim vemos como um corpo que um dia decolou passou a estar quebrado.

Super/Man captura tanto a euforia romântica de seus tempos como Superman ao celebrar as qualidades dos filmes de Richard Donner* e como Reeve passou a encarnar o herói fora da ficção, quanto, em especial graças ao testemunho dos filhos dele, destaca a tristeza e lutas que permearam a segunda metade de sua vida. O resultado é o grande feito do documentário: ser um verdadeiro reflexo do super homem em seu centro. Assistir a Super/Man é entender quem foi Christopher Reeve, mais do que entender tudo sobre ele.

*Superman III e IV são ignorados até mais do que a separação do ator, o que diz muito sobre os filmes.

Com isso, não quero dizer que não haja novidades até para quem sabe dos principais fatos de sua carreira e vida pessoal, só que este não é um grande trabalho de investigação. Fosse sobre uma pessoa viva, ou sobre alguém com uma história menos dolorosa, Super/Man pouco ofereceria. Dado o foco em Reeve, porém, a decisão por ser uma grande comemoração (e lamentação) é compreensível, e até necessária. A intenção é se apoiar no amor, e no luto, de familiares e fãs, e isso o filme faz muito bem. Ser informativo é outra questão, mas até nisso há bons resultados.super-man-christopher-reeve-critica2

Ao tratar dos primeiros anos de Reeve como ator de teatro, os diretores encontram nos papéis que ele interpretou coisas que fogem um pouco da sua imagem de bom-moço, identificando tons de erotismo e especialmente comédia no seu trabalho, e ao narrar sua amizade com Robin Williams, oferecem os momentos mais devastadores de todo o filme. Por mais duro que seja ver depoimentos e registros sobre sua vida depois do acidente, ou da triste morte da esposa de Reeve, e mãe de seus filhos mais novos, pouco após do próprio falecer, ver Williams chorando ao discursar sobre a perda de seu querido amigo é a maior garantia de lágrimas em Super/Man.

Afinal de contas, hoje sabemos sobre as dificuldades de Williams com a depressão, e como essa doença o levou a tirar sua própria vida. Ali, Bonhôte e Ettedgui conseguem acenar para tudo isso sem jamais usar Williams como muleta, ou perder o foco de seu filme. No trecho do documentário sobre a amizade dos dois, os diretores enfim parecem conseguir combinar a sensação de estar nos revelando mais sobre Christopher Reeve com sua busca por nos emocionar diante desta história. É um equilíbrio que nem sempre está lá, ainda que o filme nunca se torne pedante ou cansativo.

Mesmo quando parece dizer o óbvio, Super/Man: A História de Christopher Reeve mantém em tela a sensação de acompanhar o seu assunto principal de perto. O filme não é revelador, mas sempre se mostra fiel à realidade de Christopher Reeve, e não só entende por que o amamos, como compartilha deste carinho e até o intensifica.

Super/Man: A História de Christopher Reeve estreia nos cinemas brasileiros em 17 de outubro.

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