The Acolyte tem potencial, mas sofre para encontrar o caminho certo
Primeira metade da nova série de Star Wars no Disney+ começa apressada, mas tem bons elementos que precisam ganhar mais importância na trama
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Andor e The Mandalorian são dois ótimos exemplos em como essa empreitada de Star Wars no Disney+ pode dar certo. Ambas as séries passam por um excelente trabalho de criação de personagens, que, alinhado com o lore já pré-estabelecido com toda a Saga Skywalker e derivados - como Clone Wars e Rebels - expande essa Galáxia Tão Tão Distante que conhecemos desde Uma Nova Esperança.
The Acolyte, nova série da Lucasfilm para o streaming, tem um trabalho um pouco mais complexo. Ela se passa 100 anos antes de A Ameaça Fantasma, em um momento bem diferente do que conhecemos desse universo. A nossa maior referência está nos protagonistas da série: os Jedi. É uma abordagem interessante, pensando que - ao menos nos quatro primeiros episódios que assistimos - a história tem um foco grande na Ordem Jedi e algumas consequências de sua presença na galáxia. Não é à toa que o terceiro capítulo, totalmente focado no passado de Mae (Amandla Stenberg) e seu encontro com Sol (Lee Jung-jae), é o melhor deles. E o grande diferencial está na cadeira da direção.
Se os dois primeiros episódios nos levam a pensar que The Acolyte será uma nova Obi-Wan Kenobi, com um plot raso e apressado, é no capítulo dirigido pelo sul-coreano Kogonada que a série realmente mostra um potencial interessante de expansão de universo e um propósito para existir. O diretor utiliza todos os quase 40 minutos de história para contar cada detalhe do passado da personagem central da trama, vivida por Stenberg. Kogonada dirigiu o ótimo After Yang e repete aqui a dobradinha com Jodie Turner-Smith (Queen & Slim), que surge como a Mãe Aniseya, a líder de um grupo de bruxas que entendem a Força de uma forma diferente dos Jedi. Mais uma vez, assim como foi com Ahsoka e Mandalorian, Star Wars volta a jogar mais com a fantasia e o misticismo, algo que parecia perdido com as abordagens bélicas e políticas que a franquia tomou no passado.
Essa calma e refino na direção, infelizmente, passam longe dos dois primeiros episódios, que serão lançados na estreia da série no Disney+. A pressa da diretora, roteirista e showrunner Leslye Headland para já começar a história com uma “reviravolta” daquilo que é mostrado no marketing de The Acolyte é sentida e prejudica demais a apresentação desse novo momento de Star Wars que vamos acompanhar. Toda a questão em volta da personagem de Amandla Stenberg é rasa e desinteressante. Somos jogados em diversas situações e cenários em pouquíssimo espaço de tempo, o que deixa a trama rasa e sem a real importância do drama que ela quer passar. Isso é algo que pode prejudicar - e muito - a continuidade de parte do público na trama.
Se há um grande mérito nos dois primeiros episódios - além de uma cena de luta bacana e outra ok -, ele está em Lee Jung-jae. Sol é um mestre Jedi que se aproxima de figuras como Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e o Obi-Wan de Alec Guinness, ao trazer uma certa predisposição a seguir mais sua intuição do que as regras da Ordem Jedi. Além disso, o drama do mestre e aprendiz, tão comum em toda a saga, ganha contornos dramáticos seguros na atuação do ator, com suas expressões e seu sotaque marcantes. É sempre interessante acompanhar o personagem quando ele está em tela, algo que não dá para dizer, até o momento, dos jedi Jecki e Yord, personagens de Dafne Keen e Charlie Barnett, respectivamente.
A série tem grande potencial para contar uma história realmente instigante sobre os Jedi e sua imagem de “Cavaleiros da Paz” e os primeiros episódios nos dão um vislumbre disso. “Não podemos levar isso para o Alto Conselho. Eles terão que levar o assunto para o Senado e isso pode instaurar uma crise”, diz uma personagem ao discutir a série de assassinatos de integrantes da Ordem. É um tipo de situação nova, pelo menos nos live-action, envolvendo personagens que sempre foram vistos como sábios. Além disso, The Acolyte não pode escapar da discussão sobre a missão dos Jedi pela galáxia para cooptar mais jovens e aumentar o número de cavaleiros, algo que se mostra central na história de Mae.
The Acolyte tem potencial para ser um bom suspense envolvendo aqueles que sempre foram os mocinhos da história. Personagens como Ahsoka, o Luke de Os Últimos Jedi, e até o próprio Anakin, já nos mostraram que o questionamento do funcionamento da Ordem Jedi e a forma como entendem a Força, pode tornar Star Wars ainda mais marcante. Uma série que se apresenta como uma história de vingança de um possível aprendiz de Sith e o ressurgimento dessa sombra na Galáxia, precisa se aprofundar nessas contradições da fé, do que é certo ou errado e qual o papel da luz e da escuridão nisso tudo. Ser apenas mais uma historinha de capa e espada, com um mestre e um aprendiz lutando, é tudo que não precisamos.
Andor nos mostrou isso e Mandalorian - em seus melhores momentos - também. Fica a torcida para que a segunda metade de The Acolyte possa ser mais como o episódio de Kogonada e menos Kenobi, como os dois primeiros. Potencial tem, só precisa encontrar qual caminho percorrer.