The Batman: Por que Robert Pattinson é o melhor Batman do cinema
Com atuação contrastando os momentos quietos com explosões barulhentas, ator britânico faz um trabalho preciso no papel
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Com personagens interpretados por diversas pessoas, como James Bond, Homem-Aranha ou Batman, dizer que alguém foi a melhor versão é sempre complicado. Com The Batman, porém, Robert Pattinson faz uma grande declaração e se mostra não só à altura de Michael Keaton, Christian Bale e outras estrelas a passar pelo Cavaleiro das Trevas da DC Comics, como, em diversos sentidos, os supera.
Comparar Pattinson, como ator, com Bale, Clooney e Keaton, por exemplo, é um exercício impossível, mas o que o mais novo intérprete de Bruce Wayne faz melhor do que todos os seus antecessores é atuar dentro do capuz icônico do Homem-Morcego. Christian Bale talvez comunique melhor a imagem de playboy que o Batman apresenta para o mundo, e Ben Affleck talvez tenha capturado sua fisicalidade como ninguém, mas Pattinson é capaz de comunicar todas as emoções e nuances do herói com seu olhar e lábios. Para ser justo, olhos e boca são as principais ferramentas de atuação no ser humano. Bastava alguém usá-las.
Mas por mais que seus trabalhos como Batman tenham sido ótimos, os antecessores de Pattinson costumam ficar mais travados debaixo da máscara, focando mais em criar uma voz icônica e, talvez, se sentindo presos pelo aparato em sua cabeça, pela dificuldade em se mover dentro da roupa. Pattinson se destaca por, surpreendentemente, atuar melhor enquanto mascarado do que sem. Seu Bruce Wayne ainda é eficaz, cumprindo perfeitamente o que lhe é pedido pelo diretor Matt Reeves - um recluso, antissocial e possivelmente psicótico - mas seus melhores momentos são usando a capa.
O próprio Reeves é o maior aliado de Pattinson em seu trabalho. O cineasta parece ter instruído o diretor de fotografia Greig Fraser a sempre colocar a câmera próxima de seu astro, inundando The Batman de closes e super-closes. Vemos seu olhar passeando pelas pistas da cena do crime do Charada, notamos as mínimas mudanças de expressão nos seus olhos, quando eles se arregalaram por um único milímetro revelando surpresa e choque. Às vezes, o inesperado é demais e sua boca não se contém se fechada, e às vezes, a raiva e frustração tomam conta do seu ser, resultando num grito vindo de suas estranhas. Reeves e Fraser, conhecendo a qualidade de seu ator principal, removem o máximo de obstáculos possíveis em seu caminho, a montagem de William Hoy e Tyler Nelson deixa as cenas respirarem sem cortes brutos ou desnecessários, dando a Pattinson todo o tempo do mundo para, aos poucos, revelar o interior de Bruce Wayne. O uniforme criado por David Crossman e Glyn Dillon, minimalista em seu capuz, também auxiliar.
Mas o crédito final precisa ir para Pattinson. Ele não tenta capturar um carisma inconsistente com a personalidade do herói, mas se apoia nas sutilezas para fazer o trabalho. Reeves e sua talentosa equipe trabalham como uma equipe de futebol, trocando passes que nem o Barcelona de Guardiola, até chegar em Pattinson que, como Messi, precisa botar a bola na rede. Diferente do atacante argentino, porém, seus gols não são imediatamente chamativos. Sua atuação é mais paciente e quieta, ruminando em cada fala ou movimento, mas eventualmente explodindo num surto de ira e raiva quando a frustração do herói com a Gotham que roubou a vida de seus pais se torna grande demais para suportar. O contraste é a chave. As sequências mais quietas, então, aumentam o peso e significado desses momentos nas quais a carga emocional é mais barulhenta.
O maior mérito do britânico é em comunicar o psique desta figura sombria. Seu Batman não parece, psicologicamente, equilibrado. Ele deixa claro o distúrbio causado pelo trauma de sua infância, uma cicatriz mental intensificada pelo seu estilo de vida noturno e quase suicida. Quando ele diz não se importar com sua vida, com o legado da família ou com o dinheiro, acreditamos. Ele parece se ver de maneira totalmente conectada à cidade. Se ela está além da salvação, ele também está. Conforme Gotham piora, ele parece mais displicente e radical em suas ações.
Talvez, nesse sentido, seja preciso elogiar a atuação de Pattinson como Bruce Wayne. Sua versão do bilionário é praticamente nula, mas de forma intencional. Menos do que apenas uma máscara, Bruce parece nem ser levado em consideração por esta versão do Batman. O Cavaleiro das Trevas o consumiu completamente, e sua aparente inexistência, então, significa cenas mais apáticas, ressaltando a diferença entre Bruce e Batman. Pattinson é estupendamente preciso nesses dois lados.