Considerando o quão realista The Batman foi, incluindo na escolha e abordagem do vilão Charada (Paul Dano), era de se esperar que a Parte II do universo de Matt Reeves colocasse o Cavaleiro das Trevas vivido por Robert Pattinson em rota de colisão com outro inimigo semelhantemente "pé-no-chão." Talvez os já apresentados Pinguim (Colin Farrell) e Coringa (Barry Keoghan). Talvez Duas-Caras. Talvez Hush. Por isso, a escolha do Cara-de-Barro, um dos mais fantasiosos criminosos de Gotham City, se confirmada, será tão surpreendente. Mas Reeves, aparentemente, tem um plano interessante.

Nos quadrinhos, Cara-de-Barro é como vários personagens, já foi o nome dado a diversas pessoas. A versão original criada por Bill Finger e Bob Kane nos anos 1940 era um ator de filmes B, Basil Karlo, que caiu numa vida de crime. Karlo se tornou um serial killer quando descobriu que o filme de terror que lhe deixou famoso seria refeito. Ele assume o papel de outro filme, onde viveu o vilão "Cara-de-Barro", na vida real e começa a executar os membros da nova produção.

Na era de prata dos quadrinhos, no fim dos anos 1950, ele foi reimaginado como um vilão transmorfo, capaz de mudar sua forma e aparência. Matt Hagen foi a segunda versão do inimigo, e passou décadas com o título. De lá pra cá, o cientista Preston Payne foi o terceiro, Sondra Fuller foi a quarta (conhecida como Dama de Barro) e Cassius "Clay" Payne, filho de Preston e Sondra, foi o quinto.

Basil Karlo — cujo nome é uma mistura de Basil Rathbone (ator de Sherlock Holmes) e Boris Karloff (ator de Frankenstein) — foi reintroduzido nos reboots da DC dos quadrinhos e é a versão mais conhecida do personagem. Eventualmente, a história do ator frustrado e o poder de transmorfo foram unidos na narrativa e, combinados, esse elemento geraram quem, hoje, os fãs conhecem como Cara-de-Barro.

Reeves, porém, parece estar de olho na Era de Ouro para informar sua versão do Cara-de-Barro. Há meses, especula-se sobre a presença do vilão no Reevesverso através vazamentos e relatos (no Reddit, não faltam pistas), e assim a afirmação do Deadline de que o personagem será uma "grande adição" a The Batman Parte II parece ser apenas a confirmação dessas suspeitas. Cara-de-Barro, porém, talvez apareça antes. Alguns relatos afirmam que Basil Karlo já surgiria (possivelmente apenas como ator, não assassino) em Pinguim.

Este Karlo, apontam os rumores, seria de fato trabalhado como visto na Era de Ouro, quando surgiu em Detective Comics #40. Ali, como um maquiador e ator de terror, ele foi criado com uma abordagem que se encaixaria facilmente no mundo de Matt Reeves. Seria fascinante ver essa versão do Batman encarando personagens com poderes sobrenaturais como o Cara-de-Barro mais conhecido, mas também é fato que o Basil Karlo original oferece ao diretor a chance de continuar uma temática profundamente psicológica para seu universo.

Basil Karlo oferece a Reeves a chance de discutir ideias como identidade, máscaras, impostores e isolamento e falsidade. Se ele quiser, por exemplo, debater quem é a verdadeira face de Bruce Wayne: o bilionário órfão ou o cruzado encapuzado, Cara-de-Barro pode servir como espelho, assim como o Charada de Dano foi quando Reeves tratou dos deméritos da estatégia de gerar medo em criminosos vs. a necessidade de inspirar coragem em civis no primeiro filme. Cara-de-Barro, também, permitirá que o Batman de Pattinson continue no modo detetive. Já é possível imaginá-lo desmascarando suspeitos e tentando encontrar a verdade em meio a truques enganosos.

Até a série de Batman de 1966, com Adam West, encontrou maneiras criativas de usar Cara-de-Barro sem os poderes especiais. Lá, Basil Karlo foi apresentado como "False-Fase" (outro personagem nos quadrinhos, fundido na série com Cara-de-Barro) e era um mestre de disfarces capaz de se passar por outras pessoas. E, bom, olhe seu rosto.

Novamente, o Cara-de-Barro mais popular, visto como argila viva capaz de se transformar em qualquer pessoa ou mudar a forma de seu corpo, também seria um experimento fascinante. Toques de terror corporal poderiam surgir (não à toa, o especialista Mike Flanagan quer fazer um filme do vilão para o DCU de James Gunn) e o desafio de inserir um personagem tão poderoso dentro de um mundo, à primeira vista, tão oposto a super poderes, é intrigante. Contudo, Basil Karlo, o simples ator-assassino, é uma proposta igualmente recheada de potencial.