The Last of Us da HBO supera a obra original e é a melhor adaptação de jogos para TV ou cinema - Crítica Sem Spoilers

The Last of Us da HBO supera a obra original e é a melhor adaptação de jogos para TV ou cinema - Crítica Sem Spoilers

Série adapta o necessário e melhora a qualidade da trama com novos elementos

Bruno Silva
10 de janeiro de 2023 - 6 min leitura
Notícias

Vamos começar pelo que interessa: The Last of Us, a série, é melhor do que The Last of Us, o jogo.

Faço essa afirmação na única maneira em que a adaptação da HBO pode ser comparada com a obra original: sua história, uma jornada intimista de emoções humanas sendo colocadas à prova diante do fim do mundo, e depois dele. A história de The Last of Us, a série, é mais bem contada do que em The Last of Us, o jogo. É algo notável por diversos motivos.

Considerado por boa parte da crítica e público como um dos melhores jogos de todos os tempos justamente por seu roteiro, The Last of Us teve um tratamento especial quando chegou a inevitável hora de ser levado para outra mídia audiovisual. Não são muitos os desenvolvedores de games que têm a oportunidade de esnobar Hollywood e esperar até ter a melhor oportunidade de adaptar seu trabalho.

Foi o que aconteceu com Neil Druckmann, co-criador do game, que teve a oportunidade de assumir o mesmo posto, na série da HBO, ao lado de Craig Mazin, de Chernobyl. É um caso sem precedentes, até mesmo se levarmos em conta todo o processo que resultou na ascensão dos filmes de super-herói em Hollywood, creditado ao fato de que entendidos do assunto passaram a ocupar postos-chave nas equipes criativas.

Quando você cria um jogo que, por si só, já usa e abusa da linguagem do cinema e da TV, além de diversos clichês instaurados na cultura pop norte-americana, esse tipo de desafio parece fácil, mas também é fácil cair em armadilhas, especialmente quando quem cria tem uma reverência ao material original ou se vende como entendido do assunto, como aconteceu com o filme de Warcraft de Duncan Jones.

Com tudo isso em jogo, o verdadeiro mérito de The Last of Us, a série, é tomar as decisões corretas para contar essa história da melhor maneira possível no meio em que está inserida.

É por isso que The Last of Us, a série, traz uma sensação incomum de familiaridade e estranheza. Em alguns momentos, a produção da HBO copia descaradamente seu material original até os mínimos detalhes, dos enquadramentos de câmera a diálogos inteiros, na excelente trilha sonora do argentino Gustavo Santaolalla ou até mesmo no indefectível sotaque que Pedro Pascal dá ao protagonista Joel, com uma voz que parece ser do intérprete do personagem no game.

Ao mesmo tempo, a série toma inúmeras liberdades, adicionando personagens, alterando conceitos e, em alguns casos, remontando completamente alguns momentos em relação a como eles são contados. A princípio, essas alterações se justificam pela necessidade de adaptar a história para uma mídia em que não há interatividade — e ela tem um enorme papel no jogo The Last of Us.

Mas, Mazin e Druckmann vão além e pensam não só em como moldar essa história a um novo meio, mas também em como aprimorá-la, e isso faz toda a diferença.



O tempo é um fator crucial nessa estratégia. Dez anos separam o lançamento do jogo The Last of Us da estreia da série. Neste meio tempo, Druckmann amadureceu como contador de histórias e teve tempo de evoluir seu entendimento sobre a própria criação, que já teve continuações, remasterizações e remakes no terreno dos videogames.

Em The Last of Us, a sociedade perece diante de uma pandemia de infecção pelo cordyceps, um fungo capaz de transformar pessoas em criaturas violentas e irracionais. O batido cenário pós-apocalíptico é um pano de fundo para os dramas pessoais do elenco, em especial de Joel, que vive um grande trauma logo no início do surto e, vários anos depois, se vê em uma jornada com a jovem Ellie (Bella Ramsey) através dos Estados Unidos.

De forma surpreendente, a série The Last of Us é ainda mais intimista do que sua obra original, e as explosões e sequências de combate que ocupavam boa parte dos momentos jogáveis dão lugar a uma exploração maior nas relações entre os personagens, dobrando uma aposta que o jogo já havia feito dez anos antes.

Como resultado, temos uma série ainda mais forte no que diz respeito aos grandes momentos emocionais da trama de The Last of Us, que é centrada nessa improvável relação entre Joel e Ellie, mas também se estende a outros nomes do elenco, como a parceira de Joel, Tess (Anna Torv) ou Bill (Nick Offerman), dois dos maiores destaques entre os coadjuvantes.

O contexto expandido pelos momentos inéditos que preenchem as lacunas da parte interativa da história ajudam a tornar sequências conhecidas do jogo em momentos ainda mais impactantes, que são amplificados pelos desenrolar seco da ação visto em Chernobyl, de onde Mazin e vários outros membros da produção de The Last of Us são egressos.

O próprio Mazin, em algumas entrevistas, chegou a dizer que, para quebrar a “maldição” das adaptações de games, ele “trapaceou” ao escolher a melhor delas. O material base ajudou, mas certamente The Last of Us ressurge em uma nova mídia ainda mais refinado e poderoso.

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hbo

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