Transformers: O Despertar das Feras é um retrocesso à desgastada Era Michael Bay - Crítica do Chippu
Preferindo explicar uma história a contá-la, novo filme opta por caminhos decepcionantes
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Ainda que o primeiro seja um filme de aventura divertido, é difícil dizer qual Transformers é qual hoje em dia. Todos os cinco filmes dirigidos por Michael Bay parecem uma miscelânea de efeitos visuais e sonoros robóticos repicados por protagonistas bronzeados contra o por do sol segurando uma bandeira estadunidense.
À parte o exímio trabalho visual em alguns segmentos, a franquia se desgastou a ponto de precisar de um reboot oitentista que simplificasse tudo - carros, personagens e o senso de urgência que sempre era grande demais para ser crível. E isso funcionou com Bumblebee, filme protagonizado por Hailee Steinfeld que ganhou pouquíssima atenção, porém se mostrou muito melhor que as sequências anteriores.
Chegamos então a O Despertar das Feras, sequência direta de Bumblebee dirigida por Steven Caple Jr. que se passa nos anos 1990, e em teoria evoluiria o ar mais simplista, aventureiro e até intimista visto antes. Mesmo que flerte com protagonistas menos engessados e robôs mais carismáticos, o filme claramente opta por replicar as dinâmicas narrativas da Era Michael Bay, especialmente deA Era da Extinção, quando a audiência foi apresentada aos Dinobots, os robôs-dinossauros. Os protagonistas americanos descobrem os Autobots, os robôs-animais Maximals e Predacons, e precisam achar um item secreto numa selva na América do Sul que vai salvar o planeta e o universo do vilão, neste caso, Unicron, o Deus Devorador de Mundos.
A estrutura da aventura é quase uma réplica do que fez Transformers se desgastar. Uma infinidade de exposições para entender a mais simples das histórias, sacrifícios feitos com pouco ou nenhum envolvimento emocional e riscos que têm escalas tão desproporcionais quanto os carros que se transformam em robôs e cabem em um avião de carga (não como carros, e sim como robôs gigantescos). Este modelo exaustivo é o cerne de um filme que, curiosamente, começa e termina de forma muito mais interessante do que se desenvolve.
A proposta de transformar Optimus Prime (Peter Cullen) em um líder irresponsável, para depois vê-lo ganhar altivez é boa, assim como a conexão entre Mirage (Pete Davidson) e Noah (Anthomy Ramos), que funciona tão bem quanto os melhores momentos de Bumblebee e Hailee no filme anterior. Essas relações, porém, se esvaem quando a trama foca quase todo o seu desenvolvimento em explicações sobre chaves mágicas, energias robóticas e venenos que controlam corpos alienígenas.
O desfecho, que emula de forma meio constrangedora a batalha de Vingadores: Ultimato, revela como as relações poderiam ter sido melhor trabalhadas para que o clímax e as surpresas ganhassem o peso desejado - afinal, não é sobre salvar o mundo pela enésima vez, e sim por quem e porquê salvá-lo. Se estivesse preocupado, por exemplo, em explorar os anos 1990 como está em explicar sua simplória mitologia, Despertar teria não só meia dúzia de músicas da época, mas um cenário que fosse além do ambiente exótico do Peru ou animais gigantes para se diferenciar na franquia.
O desperdício não fica só evidente nestes pontos que o próprio filme realiza no terceiro ato, mas também ao longo da projeção, que não se decide entre contar ou explicar uma história. Ao optar por fazer o segundo, o novo Transformers se torna tudo que ele já tinha renegado, e volta no tempo para lembrar que certas coisas às vezes precisam só ser esquecidas, ao menos por um tempo.
2/5