
Trem-Bala - Crítica do Chippu
Viagem pouco empolgante de David Leitch se salva de acidentes graças ótimas atuações, com destaque para Pitt

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Na teoria, Trem-Bala parece uma viagem certeira. David Leitch, veterano do primeiro John Wick, munido de um elenco de nomes carismáticos como Brad Pitt, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry e Joey King num veículo em alta velocidade, no Japão, e cheio de pancadaria? A premissa parece, de cara, uma garantia de diversão e empolgação. Aperte o cinto e lá vamos nós. Quando o filme, lançado nesta quinta-feira (4) pela Sony Pictures nos cinemas, alcança a linha de chegada, porém, o sentimento não é o esperado. Sim, a proposta foi cumprida. O trajeto aconteceu como prometido, sem grandes acidentes. Mas às vezes, queremos algo que saia dos trilhos.
Entramos a bordo com Joaninha, codinome do assassino vivido por Pitt. Ele é um de vários matadores de aluguel contratados para uma missão num trem-bala japonês, e seu objetivo é simples: basta retirar uma maleta com dinheiro e sair sem ser pego. Deprimido por conta de seu aparente “azar” no trabalho, ele não acredita que as coisas serão simples assim. Adivinhe? Ele estava certo. Rapidamente, os motivos desse grupo letal —que também inclui personagens interpretados por Bad Buddy, Zazie Beetz, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada e Michael Shannon — se revelam contraditórios e uma espécie de battle royale se desencadeia pelos vagões.
Os vários confrontos, reviravoltas e alianças que se formam pelas duas horas de Trem-Bala significam um ritmo frenético, algo digno de uma trama em alta velocidade, mas também danoso para o espetáculo como um todo. Leitch tem sorte de ter este elenco. O charme e carisma dos atores são, muitas vezes, tudo que nos impede de não formar qualquer conexão com estes personagens. Claro, o roteiro de Zak Olkewicz, baseado no livro de Kotaro Isaka, oferece vislumbres de suas personalidades e pensamentos através de piadas e alguns diálogos, mas as figuras são tão profundas quanto folhas de papel, e Trem-Bala jamais faz uma parada para tentar mudar isso.
É, então, um alívio ter Brad Pitt no papel principal. Com seu tradicional jeito relaxado, ele se deixa cair nessa confusão com aquele quê intangível de super estrelas do cinema. Por alguma razão, Pitt sabe usar seu rosto, olhar e sorrisos como pouquíssimos colegas de profissão são capazes. Como Paul Newman ou Robert Redford, ele oferece ao seu diretor uma eterna rota de fuga. Basta cortar para sua face. No arquear de sobrancelhas ou cair de seu queixo, o astro se mostra magnético e, consequentemente, salva o papel do fracasso. O mesmo pode ser dito para Brian Tyree Henry e Aaron Taylor-Johnson como Limão e Tangerina, respectivamente, gêmeos (supostamente) engraçados e às vezes competentes. A química cômica da dupla é perceptível e um dos grandes destaques de nosso passeio pelo Japão.
King, por sua vez, surpreende ao interpretar o tipo de personagem até então inédita em sua carreira. Ela se deleita numa figura traiçoeira que oferece à atriz a oportunidade de brincar com uma atuação surpreendente. Entretanto, outros membros do elenco, como Beetz, Koji, Sanada e Shannon, são prejudicados pela falta de texto. Eles têm alguns momentos e aproveitam tais chances como podem (afinal, é impossível apagar atores como Shannon e Beetz totalmente), mas suas interpretações deixam claros os defeitos do longa.
Leitch adota uma abordagem lúdica e inquieta para o filme. Há textos estilosos na tela para revelar os codinomes dos assassinos, flashbacks constantes, montagens e câmeras lentas durante toda a viagem. Esses desvios, porém, se transformam em obstáculos.
O diretor não mostra um bom senso de ritmo. Ao inserir estes truques em momentos estranhos e quebrando a tensão construída durante algumas das melhores cenas. Na décima vez que ele volta no tempo para mostrar os acontecimentos por outra perspectiva, a ideia já deixou de ser irritante e começa a ficar cansativa. Há até participações surpresa de atores famosos e covers de música pop em japonês jogados em tela a cada 10 minutos. Tentativas de formar uma espécie de quebra-cabeça com elementos centrais da narrativa são guardados até o último ato (prevê-los, contudo, não será difícil). A ideia era emular Quentin Tarantino ou Guy Ritchie, mas o resultado pareceu mais um vídeo de YouTube estupidamente caro.
É surpreendente, então, como o filme se mantém apático. As várias atrações oferecidas por Leitch durante a viagem se tornam distrações do espetáculo principal. A ação, principal marca deste diretor veterano do mundo de dublês, se torna confusa e pouco memorável ao ser atrapalhada pelo repetido uso de uma montagem desenfreada, marcada pelo slow-motion e cortes frustrantes. É uma escolha bizarra. Leitch é parte de uma geração de cineastas cuja principal contribuição é sua visão clara e coesa de lutas, perseguições e tiroteios profundamente dinâmicos mas nunca maquiados. A ação como principal atrativo. Por que, então, mudar isso?
Semelhantemente, Trem-Bala se põe no caminho dos seus próprios atores. A montagem de Elísabet Ronaldsdóttir nunca deixa as interpretações, por mais excelentes que sejam, respirar ou crescer. Há sempre outro lugar para ir. Leitch tenta criar um mosaico capaz de prender nossa atenção em diversos pontos de interesse, mas eventualmente esse exercício de equilíbrio se mostra grande demais para o diretor. Os pratos vão pro chão.
Assistir à queda ainda pode ser divertido, e Trem-Bala tem momentos e atores bons o suficiente para chegar ao destino final relativamente inteiro.
3/5
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