Eu não sou Professor Xavier, mas sei o que você está pensando, caro leitor. “Vingadores vs. X-Men? Antes mesmo do Marvel Studios apresentar os seus X-Men? Isso não faz o menor sentido.” Eu tive a mesma reação ao ler os rumores da vez — insiders sugerem que esse será o novo título de Vingadores 5, antes conhecido como A Dinastia Kang, e que isso será anunciado na SDCC— mas, então, eu pensei: e se os X-Men em questão forem os da Fox? Hugh Jackman de Wolverine lutando contra Tom Holland de Homem-Aranha?

Tudo isso só faria sentido se a história que a Marvel está contando fosse culminar com Vingadores: Guerras Secretas, e como já foi anunciado, esse é, de fato, o filme que encerra a Saga do Multiverso. Guerras Secretas, como expliquei aqui, foi o maior evento dos quadrinhos Marvel neste século, e concluiu com o colapso total do multiverso e uma última batalha com personagens de várias realidades enfrentando um super-poderoso Doutor Destino. Antes disso, porém, dimensões paralelas eram erradicadas através de algo chamado “incursão”, palavra que os heróis da editora deram à colisão entre duas Terras. Por razões explicadas na história, o nosso planeta era o ponto de encontro entre os universos, e quando as Terras se tocavam, ambos os cosmos eram apagados da existência.

(Bônus: Vale lembrar que os Irmãos Russo, agora cotados para dirigir os próximos Vingadores, disseram ao nosso site-irmão Omelete, em 2019, que voltariam para a Marvel cinco anos depois para um filme que juntaria Vingadores e X-Men, entre outros).

Guerras Secretas: Conheça a história do filme dos Vingadores que fecha a Saga do Multiverso

A Marvel contou tudo isso no arco que precedeu Guerras Secretas, Tempo Esgotado (taí outro bom título para Vingadores 5), e normalmente havia alguma grande batalha durante a incursão, já que os heróis descobrem que se uma das duas Terras é destruída, ambos universos são poupados (com exceção, claro, do planeta que explodiu). Rola um monte de coisa, e tudo culmina num confronto entre os Vingadores da linha principal dos quadrinhos, da Terra-616, contra os Ultimates, os Vingadores do Universo Ultimate.

Isso tinha um propósito duplo: a Marvel havia decidido encerrar a linha Ultimate, que surgiu nos anos 2000 com o intuito de modernizar os heróis e dar a novos leitores um ponto de partida fácil (a DC está fazendo a mesma coisa agora), e assim o fez. Com exceção de Miles Morales, o Universo Ultimate acabou ali, até voltar em 2023 numa nova encarnação — que, para ser justo, é bem mais empolgante. A segunda intenção da luta Vingadores vs. Ultimates era oferecer um clímax intenso para Tempo Esgotado, afinal de contas, a guerra final entre dois universos precisava ser entre dois grupos de personagens com quem os leitores tinham algum relacionamento, para que eles se importassem com a morte do multiverso.

O Marvel Studios precisa preparar o terreno (Deadpool & Wolverine pode ajudar, assim como um Doutor Estranho 3 lidando diretamente com incursões e Tempo Esgotado), mas da mesma forma como o confronto contra os Ultimates foi ideal para nos levar a Guerras Secretas nos quadrinhos, o com os X-Men pode ser o evento que o MCU precisa. Ninguém vai se importar com o Hulk enfrentando uma variante do Hulk nunca antes vista, mas se for Hulk contra Wolverine, a tão sonhada luta das HQs, com Mark Ruffalo e Hugh Jackman? Aí o terreno é outro.

Aqui, eu preciso acalmar os nervos dos leitores de HQ. Há uma história de Vingadores vs. X-Men que não tem nenhuma relação com o multiverso, e apesar de não ser uma das mais celebradas da Marvel, ela tem material o suficiente para servir de fechamento para uma eventual “Saga dos Mutantes” que Kevin Feige e sua turma podem bolar pós-Guerras Secretas nos cinemas, e se assim decidirem, tudo bem.

Mas um Vingadores vs. X-Men com a turma da Fox não só daria a todos os atores daquela leva — Ian McKellen, Halle Berry, Famke Janssen, James Marsden — a chance de finalmente sentar na mesa dos populares (o MCU) como Jackman, Ryan Reynolds e, brevemente, Patrick Stewart e Kelsey Grammer tiveram, como também serviria como o adeus perfeito para esse grupo, dando ao público um momento para dizer adeus (dessa vez planejado, e não aquele vai-e-vem dos filmes da Fox) àquelas versões dos X-Men antes de Feige dar, de uma vez por todas, um reboot na marca e introduzir uma nova geração.

De bônus, isso ainda resolve outro problema do MCU. Com a demissão de Jonathan Majors, Feige e seus tenentes estão buscando uma nova história, deixando Kang de lado e apresentando outra ameaça. Já defendi que há tempo suficiente para o Doutor Destino, mas os X-Men dariam ao Marvel Studios personagens já estabelecidos. Sim, o mérito seria herdado. Não foi o MCU que moldou os X-Men, mas com exceção de Guardiões da Galáxia Vol. 3, os filmes mais hypados pós-Vingadores: Ultimato são todos baseados em mérito herdado, e não conquistado. Foi assim Tobey Maguire e Andrew Garfield em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, será assim em Deadpool & Wolverine, e será assim quando Guerras Secretas trouxer de volta não só esse pessoal, como provavelmente Robert Downey Jr., Chris Evans e Scarlett Johansson.

Há uma outra palavra para mérito herdado: fanservice. E há fanservice gratuito, assim como há fanservice com coração. O próprio uso de Maguire e Garfield em Sem Volta Para Casa para criar uma celebração de quem Peter Parker é e dar um encerramento ao Peter 3 é um exemplo de como fazer isso do jeito certo. Com Vingadores vs. X-Men, a Marvel teria a chance de algo parecido.