Você deveria assistir: Slow Horses é uma história de espionagem como você nunca viu

Você deveria assistir: Slow Horses é uma história de espionagem como você nunca viu

Gary Oldman brilha na nova série do Apple TV+

Guilherme Jacobs
1 de abril de 2022 - 7 min leitura
Notícias

O que vem em sua cabeça quando você pensa em histórias de espião? Viagens pelo mundo com uma boa dose de glamour e ação, como em James Bond e Missão: Impossível? A precisão fria e calculista das obras de John le Carré e suas adaptações, como O Espião Que Sabia Demais? Seja lá qual for sua resposta, ela provavelmente não será nada como Slow Horses, a nova série da Apple TV+ (estreia na próxima sexta, 1º de abril) estrelada por Gary Oldman, Jack Lowden e Kristin Scott Thomas. Você nunca viu uma narrativa de espionagem como essa.


Baseada no livro homônimo de Mick Herron, Slow Horses pega seu nome de uma divisão do MI5 para qual os espiões fracassados são enviados. É para lá que River Cartwright (Lowden), neto de um grande agente aposentado (Jonathan Pryce), é enviado depois de fracassar gloriosamente na tarefa de impedir um ataque terrorista num aeroporto. Agora, sob o comando de Jackson Lamb (Oldman), ele precisa… vasculhar o lixo de jornalistas de extrema-direita, organizar arquivos e aturar os constantes xingamentos de seu chefe, um veterano na área que, inexplicavelmente, agora passa o tempo com o pior que a inteligência britânica tem a oferecer. Há o deprimido Min (Dustin Demri-Burns), a silenciosa Louisa (Rosalind Eleazar), o hacker mercenário Roddy (Christopher Chung). Há também, misteriosamente, a excelente Sid (Olivia Cooke, puro charme), única elogiada pelo sarcástico e arrogante Lamb, interpretado de maneira hilária e perfeita por Oldman, que se deleita na acidez cômica do personagem, mas sempre mantém uma sabedoria escondida no seu olhar. Ele está sempre um passo a frente.

Os Slow Horses recebem as piores missões e são vistos como perdedores por outros agentes, especialmente pela chefe do MI5, Diana Taverner, vivida por Thomas com iguais doses de impaciência e seriedade, e cujas cenas com Jackson são dinamite. Para piorar a situação, eles parecem merecer isso, apresentando incompetência em coisas básicas para um espião. Quando, porém, eles se vêem envolvidos num caso de importância nacional e uma conspiração envolvendo, talvez, a própria agência, o grupo entra em ação. É hora de se redimir.


Slow Horses brilha ao combinar o desacato (e até desprezo) pelos seus personagens, deixando claro o quão sem glamour é sua vida e trabalho, com uma torcida honesta pelo seu sucesso. O roteiro de Will Smith (não aquele Will Smith) não entrega nada com facilidade a Cartwright e seus colegas, e mesmo este caso importante é limitado a um sequestro e uma célula de supremacistas brancos. Não há nada de Casino Royale aqui. Isso, porém, dá um significado extra até mesmo às pequenas conquistas desses espiões. Para eles, uma missão como essa é sim o equivalente a salvar o país. Pela Rainha! É impossível não ficar ao lado desses perdedores. Slow Horses é o equivalente à Premier League vencida pelo Leicester, mas para obras de espionagem.


A história da série progride de maneira inesperada, criando conexões e reviravoltas perfeitas para tramas de mistério, identidades secretas e agentes infiltrados, mas dando um novo tempero a cada um desses clichês do gênero graças ao caráter de colarinho azul dos seus protagonistas. A escalação de Lowden como Cartwright - louro e de bom porte físico - reforça esse contraste de maneira perfeita. Ele é o ator ideal para uma cópia genérica de James Bond, o típico herói britânico. Ele interpreta River como alguém ciente disso, quase como se - através da atuação - ele dissesse: “eu estou na série errada.” Dessa forma, o ator encapsula o sentimento de frustração que é central não só para seu papel, mas para toda a premissa. “Eu sou melhor que isso. Eu posso fazer a diferença. Eu quero sair dos Slow Horses.”


Cada membro da equipe possui esse combustível, e não resistem à tentação de entrar na ação quando vêem a oportunidade. A missão de resgatar Hassan Ahmed (Antonio Aakeel) de um grupo de supremacistas brancos acende neles o desejo patriótico que um dia os motivou. Um por um, eles deixam de lado o ceticismo e a apatia do seu departamento. Slow Horses, porém, nunca vira uma história de redenção. Não é spoiler dizer que a primeira temporada de seis episódios (mais já estão a caminho!) não terminará com todos esses agentes recebendo uma medalha de honra por seu serviço prestado. A série mantém um espírito de ingratidão, de indiferença, até o fim. Mas nós vemos os feitos da equipe, nós sabemos como eles se fizeram essenciais, então terminamos satisfeitos.


Essa mesma precisão não é vista nas abordagens políticas de Slow Horses. Não queremos entrar em muitos detalhes, mas a primeira temporada traz certas temáticas de fake news e extremismo que pode dar às pessoas erradas combustível para acreditar em suas próprias teorias absurdas. O ponteiro moral de Smith e da equipe criativa não chega a perder totalmente o equilíbrio, mas é preciso um certo malabarismo para não deixar essa peteca, em específico, cair.


A política, porém, serve apenas de pretexto para o verdadeiro interesse de Slow Horses: uma baita história de espionagem, mas cuja importância narrativa vem numa escala mais pessoal e íntima, e não pelas consequências globais. Ninguém aqui vai prevenir a 3ª Guerra Mundial ou impedir uma explosão nuclear, mas eles vão, quem sabe, ganhar um pouco mais de respeito.


"Você deveria assistir" é a coluna do Chippu sobre séries disponíveis em serviços de streamings com o propósito de destacar produções, velhas e novas, dignas de sua atenção. Pérolas escondidas, dicas alternativas e sugestões que podem estar ofuscadas pelos títulos mais óbvios.


Este post foi originalmente publicado em 25/03/2022.

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