WandaVision: Episódio 9 - Crítica do Chippu
A série conclui de maneira emocionalmente satisfatória e posiciona um futuro interessante para os personagens
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O texto a seguir contém spoilers do último episódio de WandaVision
Já mencionamos isso aqui, mas há um problema quando você cria uma história baseada completamente em mistérios. Na era de internet, o gerar teorias cria um buzz que atrai audiências e mantém sua série dentro da consciência do público, mas normalmente isso faz com que a resolução seja algo decepcionante ou previsível. Já vimos isso acontecendo (segunda temporada de Mr. Robot, Westworld) e durante mais da metade de sua duração, parecia que WandaVision estava caminhando nessa direção.
Olhando agora, o episódio 7, Quebrando a Quarta Parede, foi o momento mais importante da série de um ponto de vista metalinguístico. Ao literalmente colocar os personagens olhando pra câmera e declarando que tinham coisas mais importantes para fazer do que se manter na ilusão, a série entrou em seu endgame (ha). Os últimos dois capítulos reestabeleceram o foco narrativo nos protagonistas e buscou ser muito mais uma jornada emocional do que um thread de teorias do Reddit.
Com isso, a conclusão de WandaVision pode ter sido frustrante para fãs que esperavam grandes aparições de Mefisto ou Doutor Estranho (parte disso é culpa da cultura de tentar adivinhar tudo antes da hora, parte é da Marvel plantando pistas intencionais na narrativa e em declarações). Mas de um ponto de vista emocional e complexo? "O Grande Final" não podia ter sido mais satisfatório.
Vamos por parte. Como esperado, a conclusão dividiu Wanda (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) em lutas contra, respectivamente, Agatha Harkness (Kathryn Hahn) e o Visão Branco (Paul Bettany x2). A batalha dos androides é a mais interessante por conta do seu desfecho. O Visão apresentado em Era de Ultron, que trazia questionamento filosóficos como o de seu último diálogo com Ultron, havia quase que desaparecido do MCU e não estava presente em WandaVision... até aqui. O confronto entre os Visões é concluído não com lasers mas sim com pensamentos e palavras.
Ao usar a parábola do Navio de Teseu e questionar se algum deles é, de fato, o Visão original, o Visão criado por Wanda mostra ao Visão Branco que há mais em sua natureza do que uma arma sem memórias. O "vilão" é derrotado com lógica, revê seus conceitos. Há a impressão de que esse personagem pode crescer e mudar no futuro, como acontece com sua versão dos quadrinhos. O que o resolveu foi uma conclusão quase que matemática, mas sentimentos e identidade são algo que ele ainda deve desenvolver.
Do lado de Wanda, as coisas são diferentes. A luta entre as bruxas falha em criatividade e termina mais uma festa de CG repetitivo (Wanda atira magia, Agatha absorve) do que uma jornada emocional sobre a diferença entre as personagens. Isso, porém, não quer dizer que momentos memoráveis não estão espalhados aqui e ali. Ver Wanda tendo que encarar, mais de uma vez, os cidadãos de Westview foi algo impactante. Como falei na última crítica, a melhor decisão que WandaVision fez foi tirar as respostas fáceis dos personagens.
Wanda não pode culpar tudo num demônio que sussurrou em sua mente, ela não pode dizer que foi "Agatha e mais ninguém." Ela precisa entender quem é, se redescobrir como pessoa e aprender a lidar com o poder que tem. Poder, aliás, que se manifesta com tudo nessa conclusão. Vemos a personagem finalmente adotando seu visual clássico das HQs e demonstrando enormes quantidades de magia para vencer a vilã.
As consequências, entretanto, são o mais importante. Wanda vai ter que lidar com elas num nível público e pessoal. Público porque suas ações afetaram vários inocentes e chamaram atenção das autoridades. Pessoal porque ela não pode fugir de novo para uma realidade dos sonhos. É hora de encarar os fatos. Esse tipo de final é muito mais interessante, complexo e relevante do que "era o Mefisto o tempo todo." É, também, uma decisão narrativa de maior maturidade. Parte dessas consequências foi a desintegração de Billy, Tommy e do Visão. Eles só podiam existir dentro do Hex. Agora, cabe à Feiticeira Escarlate aprender a viver com o que fez.
Falando nos gêmeos, eles são pouco utilizados nesse episódio, mas uma das duas cenas pós-créditos (mais sobre isso já já) indica que eles podem ainda existir de alguma maneira. Vai ser interessante ver como o MCU os trará de volta. A outra cena foca em Monica Rambeau (Teyonah Parris), finalmente encontrando um Skrull e partindo para uma conversa com a Capitã Marvel. Rambeau também recebe pouca atenção nesse final. Com exceção de uma demonstração de poderes, seu foco é lidar com o Mercúrio falso (Evan Peters), que na verdade é o famoso marido de Agnes, Ralph, apenas hipnotizado e com super velocidade. E sim, seu nome completo é Ralph Bohner (boner é ereção em inglês). O personagem não passa de uma piada, o que em si não é um problema, mas a natureza dessa piada é tão adolescente que é estranho. A Marvel normalmente sabe fazer humor. Dessa vez não foi o caso.
Então concluímos com Wanda sozinha novamente, usando o livro Darkhold que estava com Agatha, para aprender mais sobre si e sua magia. Ela menciona que sabe aonde ir para descobrir as respostas que busca (Sanctum Sanctorum?) mas há um toque de escuridão no jeito que a série deixa a personagem. Ela derrota a vilã colocando-a em uma lavagem cerebral e a última cena parece mesmo algo de bruxaria. Nos quadrinhos, a Feiticeira Escarlate sempre caminhou entre as sombras e a luz. Será muito interessante o MCU ter um personagem com essa complexidade. A promessa está aí. Ela vai se cumprir?
Não sabemos ainda. Wanda escuta as vozes dos seus filhos na última cena pós-créditos, então há algo mais por vir nesse caminho. Por hora, WandaVision terminou de maneira muito satisfatória. Quem acompanhou as críticas aqui sabe que não fui o maior fã dos primeiros episódios, mas o último terço da série mostrou uma maturidade e complexidade emocional raramente vista em obras da Marvel, resultando numa experiência que se destaca dentro desse vasto universo.