Wes Anderson: Ranking de todos os filmes (e curtas) do diretor
De Três é Demais até Asteroid City, passando por Grande Hotel Budapeste até Fantástico Sr. Raposo: qual é o melhor filme de Wes Anderson?
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Não é todo ano que um dos nossos diretores favoritos lança cinco (!) filmes. Claro, quatro são curtas-metragens, mas nós vamos aceitar qualquer duração quando se trata de novas histórias de Wes Anderson. O cineasta que mais deslanchou com Três é Demais e Os Excêntricos Tenenbaums e se eternizou com O Grande Hotel Budapeste lançou Asteroid City nos cinemas, e com a Netflix adaptou quatro histórias de Roald Dahl, incluindo A Incrível História de Henry Sugar.
2023 é o ano de Wes Anderson, e não há momento melhor para rankearmos todos os filmes dele (incluindo, claro, os curtas). Nessa lista, incluiremos todos os longas-metragens e curtas-metragens dirigidos por Anderson, com exceção dos curtas animados feitos para Moonrise Kingdom, já que o foco ali é nas animações de outros cineastas). Comerciais e videoclipes também estão fora.
Anderson se elevou a um status curioso na cultura. Não era de se esperar que um diretor tão idiossincrático e específico se tornasse tão reconhecível ao ponto de ter tanto o reconhecimento de crítica e prêmios quanto o sucesso viral que vem com as homenagens de seus fãs no Tiktok (e a versão negativa: inteligência artificial "copiando" seu estilo).
As imitações, se é que podemos chamar versões sem alma de Harry Potter e Senhor dos Anéis com cores pastéis e personagens no centro da imagem disso, são muito menos interessantes do que seus criadores pensam, mas elas evidenciam o quão Anderson se tornou reconhecível.
Talvez mais impressionante que isso seja apenas o seu feito de continuar nas boas graças de críticos e audiências por todo o mundo. Asteroid City até gerou uma certa oposição por aqueles que o acusam de ser iterativo demais, mas a resposta ao maximalismo dos curtas na Netflix, em especial Henry Sugar, parece ter o colocado de volta por cima.
Esse ranking, então, vem tanto no que parece ser o ápice de Wes Anderson, quanto no seu momento de maior mistério. Mais do que nunca, ele parece ter uma carta branca. Agora, tudo é possível.
18. Bottle Rocket (1994)
Mais um teste ou prova de conceito do que qualquer outra coisa. O curta-metragem de Bottle Rocket, precursor da versão longa-metragem que viria dois anos depois, já mostra as composições e o humor que se tornariam inseparáveis do cineasta, mas não há dúvidas de que tudo, aqui, existe na sua versão mais crua e primitiva.
17. Castello Cavalcanti
De certa forma, esse curta produzido para a Prada é o grande demarcador de Wes Anderson. Lançado em 2013, o filme sobre o piloto de corrida vivido por Jason Schwartzmann, seu grande colaborador, que sofre um acidente e acaba reconectando com suas raízes, leva Anderson ao mainstream. Ele já tinha feito comerciais, mas Castello Cavalcanti, apesar de divertido, pouco faz além de tirar o seu diretor de vez da caixinha de "indie" e colocá-lo como uma espécie de autor de grife.
16. O Cisne
O segundo dos quatro curtas de Roald Dahl feitos para a Netflix é um dos únicos exemplos da filmografia de Anderson onde seu estilo parece totalmente subserviente ao tema. De todas as adaptações do escritor que ele dirigiu, essa é a única onde a assinatura de Dahl, com a lição moral servindo como ponto alto do filme, parece maior que a do diretor.
15. Ilha dos Cachorros
Talvez o filme mais esquecido de Wes Anderson. Apesar de elevar e muito seu uso de stop-motion, e contar com um design de produção ímpar, essa animação sobre cachorros no Japão traz complicações que o diretor, apesar de ser um grande controlador, não parece capaz de conter. Ainda assim, aqui, Anderson volta ao stop-motion menos como experimentalista e mais como mestre, e mesmo que esqueçamos do filme depois, não conseguimos tirar os olhos dele enquanto o vemos.
14. O Caçador de Ratos
Assim como a história que conta, O Caçador de Ratos tem uma construção fantástica. Enquanto o exterminador vivido por Ralph Fiennes hipnotiza o mecânico de Rupert Friend e o jornalista de Richard Ayoade, também somos hipnotizados. Mas assim como eles são decepcionados, propositalmente, pela conclusão grotesco, ficamos com a impressão de que não tivemos o clímax desejado. Ainda assim, Anderson constrói uma rápida e memorável trama que conta com grandes atuações e cenários ideais, onde a imagem criada é tão potente quanto a imagem imaginada.
13. Bottle Rocket
O longa-metragem inicial de Wes Anderson tem uma ponta afiada que é típica de diretores de primeira viagem, ansiosos para se provar sem perder a identidade. É natural que isso tenha sido suavizado pelo crescimento do diretor, mas aqui, toda a maldade e humor que depois passa a servir seu diretor existe de forma pulsante e, de alguma forma, mais pura.
12. Hotel Chevalier
Wes Anderson não está acima de melodrama, mas quanto mais novelão são os diálogos e situações, mais ele parece criar a aura de arte, de um mundo chique e de uma história profundamente honesta. Basta olhar para as atuações de Schwartzmann e Natalie Portman, porém, que vemos como ele ainda mantém um sarcasmo bem-vindo na língua. Que ele consiga nos emocionar não apesar dessa mistura, mas através dela, é um dos seus grande méritos, e vemos isso claramente nesse prequel de Viagem a Darjeeling.
11. Veneno
O último curta de Anderson para a Netflix é um exemplo primoroso de como Anderson pode inundar seu texto de contexto sem que percebamos. Enquanto as composições e atuações nos aproximam, Anderson nos deixa mais vulneráveis até alcançar o ponto onde ele pode levantar (às vezes literalmente) a cortina. Quando o verdadeiro veneno desse curta é apresentado, a revelação é ao mesmo tempo óbvia (é claro que era isso) e inesperada. Veneno parece até uma resposta ao filme seguinte.
10. Viagem a Darjeeling
Da paixão por objetos até a temática de luto (especificamente paterno) que permeia tantos de seus trabalhos, Viagem a Darjeeling é puro Wes Anderson, e efetiva sua transição para projetos maiores e ambiciosos. Seu tratamento da cultura indiana não é ideal (e em Veneno ele parece reconhecer isso), mas é um prazer ver Schwartzmann ao lado de dois outros grandes parceiros do diretor: Owen Wilson e Adrien Brody.
9. A Crônica Francesa
Para Wes Anderson, algumas coisas são mais do que dignas de serem lembradas. É nosso dever comemorá-las, edificá-las e transformá-las em memoriais vivos. Aqui, ele faz isso com o New Yorker, com pinturas e movimentos. Usando a estrutura do jornal periódico, ele faz um exercício de celebrar tanto os contadores de histórias quanto as histórias que eles contam.
8. A Incrível História de Henry Sugar
Henry Sugar é, de várias maneiras, um dos projetos mais Wes Anderson possíveis; dentro dessa rápida duração, o cineasta causa uma inundação de ideias, truques visuais, diálogos afiados, personagens memoráveis e curiosidades. Este filme, assim como todos os outros dessa filmografia tão idiossincrática, só poderia existir assim. Qualquer outra adaptação traria um gosto distinto. O grande feito de Wes Anderson é tornar suas obras inseparáveis de suas linguagens. Ah, e Benedict Cumberbatch e Dev Patel precisam fazer mais filmes com Wes.
7. A Vida Marinha com Steve Zissou
De todas as colaborações de Anderson, sua parceira com Bill Murray parece a mais reveladora. Não é difícil enxergar traumas com pais em outros filmes, ou com outros atores, mas isso nunca é tão encarado, e de forma tão direta, quanto o que ele faz com Murray em A Vida Marinha. Steve Zissou é engraçado, contém alguns dos melhores figurinos de todos esses filmes e covers ótimos de David Bowie por Seu Jorge, mas este é provavelmente o trabalho mais triste e vulnerável de seu diretor.
6. Asteroid City
Nesta tese sobre nossa busca por preencher o vazio, quer seja ele o mistério de nossa existência num nível cósmico ou o luto deixado por uma pessoa que se foi, Anderson adota a estrutura narrativa mais complexa e recompensadora de sua filmografia. De quebra, esse faroeste sci-fi spielbergiano também traz seu maior elenco até hoje, e com ele vem uma celebração de atores. Se há um filme nessa lista que é sobre fazer um filme de Wes Anderson, ele é Asteroid City.
5. Moonrise Kingdom
Chamar Moonrise Kingdom de infantil é um grande desserviço, mas o efeito que Anderson obtém ao colocar, de forma mais clara, crianças como seus protagonistas é inegavelmente potente. Meio fábula, meio livro de colorir, Moonrise Kingdom tem tanto poder pela fofura que é ver o jovem casal que lidera essa história se apaixonando quanto pelo risco e temor que vem de saber que, bom, eles estão num filme de Wes Anderson. Ao reduzir amadurecimento e amor às suas essências, ele encontra novos tons para esses temas.
4. O Fantástico Sr. Raposo
Um filme de roubo, um drama de pai e filho, uma animação stop-motion, uma adaptação de Roald Dahl, George Clooney e Meryl Streep. O Fantástico Sr. Raposo tem tudo que podemos pedir, e em meio a essa riqueza remove qualquer limite e barreira que possa existir na forma em que Anderson dirige seus filmes. Isso não é uma fórmula, limitada e repetitiva, mas uma lente que transcende gêneros e espécies.
3. Três é Demais
Wes Anderson não precisa, no seu fim de carreira, fazer um filme sobre ele mesmo. Nenhuma autocrítica tardia vai superar a forma como ele pinta, em Três é Demais, um jovem controlador, artístico, excêntrico e levemente irritante. Três é Demais é tão engraçado quanto é calculado, o que diz tudo sobre seu cineasta. Murray e Schwartzmann fizeram vários trabalhos com o diretor, mas nenhum supera o humor, carisma e olhar deste.
2. Os Excêntricos Tenenbaums
Filmes de Wes Anderson são tipicamente descritos como casas de bonecas, mas nenhum merece tanto esse apelido quanto essa dramédia familiar que pavimenta o caminho para tudo que ele faria depois. Dos temas ao grande elenco, das cores às músicas, e das risadas à tristeza, a histórias sobre os filhos de Royal Tenenbaums (o incomparável Gene Hackman) é a tese do seu criador, e também sua obra-prima. Bom, segunda obra-prima.
1. O Grande Hotel Budapeste
O filme mais popular de Wes Anderson é também seu mais bem-sucedido. Nunca o mundo construído pelo diretor com suas histórias-dentro-de-histórias, sets de diorama, subtemas sutis e personagens inesquecíveis como o M. Gustave de Ralph Fiennes pareceram tão harmonizados, tão excelentes e tão precisos quanto em O Grande Hotel Budapeste. Com este filme, Wes Anderson sintoniza suas técnicas, abordagens e preferências até o ponto da perfeição.